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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Corpo de Sól

Mesmo de longe nos acolhe com todo seu calor

Ajudando-nos a espalhar aqui a vida e o amor

A Natureza nos agracia com esta grande estação

Um brinde à bela Sól, pois chegamos ao Verão


Nossa terra que é vasta está fértil e dourada

Como os cabelos de Sif, que por Thor é amada

A Natureza nos agracia com esta grande felicidade

Um brinde à bela Sif, e toda sua fertilidade


O sagrado casamento por todos é esperado

Noivos aguardam ansiosamente o chamado

A Noiva encarna a sacralidade da Natureza

Sua escolha fará da prosperidade uma certeza


A grande fogueira que pelo povo será erguida

É o claro sinal de que nossa fé não foi esquecida

Iluminará e abençoará o futuro do pagão dedicado

Ofuscará e afastará os fantasmas do passado


Não é só a bela Sól que está no alto do firmamento

Mas com ela nossas esperanças e nossos sentimentos

De que sejam longos dias de prosperidade e felicidade

Até as sombras ganharem força no caminho de Mundilfäri


Mas até lá que nossa fogueira possa se elevar

Até o próprio fogo de Sól podê-la tocar

E que o casal sagrado possa intensamente se amar

Permitindo a terra fertilizada poder nos agraciar


Feliz Mídsömmarblót!

- Heiðinn Hjarta.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Jötunn - Um grande problema.

Boa noite caro leitor, como pode observar tenho diminuído o ritmo de postagem no Blog, pois onde estou posto quando posso, mas em breve a situação deve se normalizar, trata-se de um pequeno problema se comparado ao assunto do qual vamos tratar aqui hoje.

Como estamos falando de entidades e criaturas sobrenaturais no meio da espiritualidade e mitologia nórdicas, sigo estes estudos fazendo uma melhor explicação sobre um Clã, e uma série de entidades, pouco compreendidas, mal interpretadas ou na pior das hipóteses erroneamente louvadas. Vou falar de um dos três principais Clãs da cosmologia nórdica, vou abordar sobre o Clã dos Jötnar (Singular Jötunn) ou os famosos Gigantes.

Os Jötnar, também conhecidos por Risar (singular Risi), ou Þursar (singular Þurs) e ainda como os mais recentes e populares Trolls na Noruega, derivam a origem de seus nomes de palavras que façam referencia ao seu tamanho, a sua capacidade de consumo desnecessário ou exagerado simbolizando desta forma algo fora da ordem ou de um controle, algo caótico.

Eles pertencem a um grupo de seres primordiais que tem como traço comum o ódio aos Clãs Aesir e Vanir, bem como a raça humana. Trata-se de uma civilização atrasada, com traços rústicos e detentores de muita força, ligados diretamente as forças elementais da natureza, forças caóticas ou a conceitos abstratos indesejados para qualquer vida que busque a felicidade e a prosperidade.

As diferenças que ocorrem demonstram que alguns deles assumem formas monstruosas tais como os filhos de Loki e a avó de Tyr, outros detem uma sabedoria ímpar ou muita esperteza, como Vafþrúðnir, Mímir e Loki. Mas nem todos foram tidos por inimigos como Skaði, Mímir, Aegir, Loki (pelo menos a princípio) e Tyr (se considerar seu parentesco com o gigante Hymir), sem contar os inúmeros casos em que os Aesir se associaram afetivamente com os integrantes femininos deste tão odiado Clã, casos estes como Skaði, Gerðr, Gunnlod e Járnsaxa.

A morada dos gigantes é a terra fria e hostil de Jötunheimr, um dos nove mundos da cosmologia nórdica, outros lugares associados a este clã são Utgarðr (Fortaleza do gigante Útgarða-Loki), Niflheimr (mundo primordial do elemento gelo e dos gigantes de gelo), Muspellheimr (mundo primordial do elemento fogo e dos gigantes de fogo) e Járnviðr (Floresta de Ferro – onde Angrboða tem suas crias, os três mais famosos filhos de Loki).

A princípio estas forças deveriam sempre de ser temidas e vistas apenas como inimigos a serem abatidos, prova é a ira de Thor contra esta raça que a confronta por inúmeras vezes, causando a morte de muitos deles. Mas devemos analisar que desde o início da criação estes seres se fazem necessários e presentes no universo. A princípio pelos dois mundos primordiais, Niflheimr e Muspellheimr, ainda quando a ordem não existia e imperava somente o caos, foi dessa aleatoriedade inicial que uma cadeia de eventos desencadeou na criação de um espaço intermediário e habitável.

Em sequencia pela existência de Ymir, o primeiro deles, que serviu de alicerces para a criação de um novo mundo, para a criação de toda uma raça e também como arma para matar a grande maioria de seus próprios descendentes, possibilitando assim um ambiente não hostil onde os Aesir pudessem viver e outras raças pudessem prosperar. Por fim pelas inúmeras provações que os deuses precisaram passar para poderem se tornar mais fortes e aptos a sobrevivência. E no final como nos conta o Ragnarökkr graças a Surtr, eles serão a causa de nossa destruição final.

Logo o Clã dos Jötnar é necessário para a harmonia do universo como havia apontado em textos anteriores, sem dificuldades e desafios dificilmente damos valor a nossas conquistas e dificilmente evoluímos sem esses desafios, pois é isto que os Jötnar representam a fúria da natureza e os elementos abstratos da vida que se colocam contra nós para podermos superá-los ou aguardar um melhor momento para seguir.

Tudo na criação tem um propósito de ser, do contrário não haveria a necessidade de existir, isso é simples lógica, basta ver que entre os humanos as invenções tem como sua primeira causa a necessidade. Quanto maior o desafio, maior será a necessidade de superá-lo e o resultado será uma maior evolução ou um melhor preparo para a sobrevivência, mas não se trata de ser superior ou inferior, apenas de estar mais ou menos preparado para as adversidades da natureza e da vida em si.

Para fechar esta postagem devo adverti-los que recentemente um grupo de neopagãos tem voltado seus esforços para cultuar este terceiro Clã, apesar de muitos confrontarem esses esforços dizendo ser um mera invencionice como os lokeanos o são, até ai a Asatru como uma religião oficial também o é, creio que todos tem a liberdade de escolher um caminho espiritual e segui-lo. Então sé há quem siga só os Vanir, outros só os Aesir não é tão equivocado que alguém se dedique aos Jötunn, entretanto deixo claro que a busca pelo friðr não será jamais um objetivo que possa ser alcançado por estes integrantes do Rökkr, como se auto denominam, pelo simples fato de que não há alegria ou prosperidade em meio ao caos, a morte, a destruição.

Portanto, a menos que você seja o olho do furacão, tudo será um caos em sua vida e nada poderá prosperar, pois a prosperidade requer ordem e paz, um terreno fértil é inútil se um tempo caótico não colaborar com o plantio. Então volto a bater na tecla de que há um motivo pelo qual existem três Clãs e há um motivo pelo qual houve paz entre os Aesir e os Vanir após a guerra e também há um motivo pelo qual alguns Jötnar foram inseridos entre os Aesir e conseguiam conviver pacificamente com eles. A natureza é perfeita em suas coisas e devemos de observá-la com mais atenção e levar os textos mitológicos menos ao pé da letra.


Desejo a todos uma ótima semana.


- Heiðinn Hjarta.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Alfar - Os seres de luz e sombras.


Bom dia aos amigos, bom dia aos leitores, bom dia aos curiosos e bom dia aos seguidores, bom dia aos descrentes e bom dia aos inteligentes que nada tomam por verdade absoluta e que sabem que questionar o que é lido.


Estive um pouco afastado do Blog graças a problemas técnicos cumulados com uma linda viagem para terras distantes de onde escrevo agora, não vejo a hora de fazer um Blót por aqui, linda terra é o Sul do Brasil, não que as outras terras não o sejam, mas confesso ser um ambiente impar para um blót onde me encontro.


Bom, dando sequencia aos estudos sobre os seres que permeiam os contos e os mitos da espiritualidade nórdica, após adentrar e desvendar o que se oculta sob o manto da morte vamos observar na luz e na escuridão os seres que nelas estão. Falaremos dos Alfar, seres de poderes e habilidade mágicas, de beleza e feiura, dotados de magia capaz de auxiliar ou de prejudicar a vida de qualquer um que esteja em seu caminho, querendo estar ou não em seu caminho.


A princípio devo confessar que se olhasse a tempos atrás e me perguntasse se acreditava em elfos, anões, mortos-vivos e todo tipo de coisa consideraria mero devaneio ou muita fantasia de minha imaginação, mas o segredo não está no que se acredita, mas como se acredita.


Os Alfar, ou como conhecemos elfos, são seres ligados a luz, a beleza, servos gentis e dedicados aos deuses, retratados como belos, claros, encantadores e delicados, mas nem por isso menos perigosos ou respeitáveis. Sua ligação com a luz se encontra já na raiz de seu nome, Álfr ou Alfar (no seu plural) tem como origem no Proto-Indo-Europeu a palavra albh que significa branco.


Sua morada é conhecida por Álfheimr cujo senhor é Freyr (lembrando que Freyr é o fundador da Casa Real Ynglinga da Suécia em Uppsala), mas andam por todos os mundos a serviço dos Deuses ou por próprio capricho, destas indas e vindas houveram muitos relacionamentos com os seres humanos dos quais resultou em alguns casos crianças com o sangue misto.


As Sagas nos contam sobre Skuld uma meio-elfa muito versada nas habilidades mágicas (seiðr), controladora de um exército que o fez lutar mesmo depois de caídos, invencível em batalha em meio a ele, só sendo derrotada quando capturada só, em seu exército até elfos lutavam ao lado de homens, outro caso é o herói Högni nascido de uma rainha humana e seu amante élfico. Ainda nos conta a Heimskringla e na Saga de Thorstein, Viking's Son sobre uma linhagem de reis que governaram sobre Álfheimr e por serem elfos eram mais belos que os homens.


Um detalhe interessante é que os Alfar também tinham sua origem em pessoas deificadas a tal ponto e relembradas como ancestrais valorosos a tal ponto, para exemplo temos dois casos de homens que alcançaram tal "status", o lendário Rei Norueguês Olaf Gudrødsson, da Casa de Ynglinga, era descrito na Ynglinga Saga como alto, forte, habilidoso e grande combatente, após a sua morte passou a ser chamado Olaf Geirstad-Elf e então era venerado como um elfo. Há também o caso do herói Völundr (Wayland, o Ferreiro) que era irmão de Egil (um herói habilidoso com arquearia) e Slagfiðr (um bravo combatente). Völundr era tido por vísi alfar (senhor dos elfos) e era um exímio ferreiro.


Também devemos lembrar que o Alfablót (sacrifício aos elfos) era um rito estritamente familiar e cada família o comemorava de uma forma e a portas fechadas, o que nos remete a um culto a ancestralidade, que nos indica que os Alfar nada mais são do que os espíritos ancestrais que zelam por uma família, assim como as Disír, Fylgjur e Vörðr, que executam semelhante função de proteger e guiar a sorte das pessoas observadas desde o nascimento até a sua morte. As provas disso podem ser encontradas em contos que os retratavam como seres capazes de atravessar paredes e portas como fantasmas, também que eram cultuados próximo ao equinócio de outono nos ritos familiares e a deificação de pessoas em elfos nos indica a continuidade de um culto a essas pessoas em sua nova forma de vida, logo podemos entender que eles permanecem entre nós ou próximos a nós mas não tão cinematograficamente como os contos medievais, (rs).


Outro fato importante é que dentre os Vaettir (seres sobrenaturais) os Alfar possuem uma divisão ligada a luz e sombra, o que tomamos por Elfos clássicos são os Ljosálfar (elfos claros) enquanto os Dökkálfar (elfos escuros) ou ainda Svartálfar (elfos negros) são o que temos por clássico na mitologia e nas fantasias medievais por Anões. Estes últimos não tem a mesma morada dos primeiros, tendo um local específico para si Svartálfheimr, isto se prova no Gylfaginning e no Skáldskapármal onde a palavra aparece se referindo ao local onde o elfo Skírnir é enviado por Freyr para falar com alguns Anões. Desta distinção também é possível herdar o tão distinto comportamento e a falta de afeição entre ambas as espécies de Alfar, pois que enquanto uns viviam a luz, em meio a magia e entre os deuses, outros viviam no subterrâneo, mais próximos aos homens e com trabalhos mais acessíveis.


O importante entretanto é ter em mente que a existência fantástica destes seres possui uma lógica, e apenas nos é apresentada de tal forma que nos parece ser impossível crer na existência deles, nos não somos seres nem de luz e nem de sombras, sendo assim impossível a nós concebê-los de forma adequada em nossa fé, mas facilmente em nosso imaginário fantástico. Entretanto temos a vantagem de sermos tanto de luz quanto de sombras o que nos permite ao observar sob ambos os prismas a existência de ambos os seres sem se deixar levar por deduções infundadas.


Tanto é cego quem olha nos olhos do Sol, tanto quanto quem adentra o ventre de uma caverna.


Até a próxima.


- Heiðinn Hjarta

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Draugr - Aqueles que não descansam.

Boa noite leitor, a semana começou bem, apesar de já estarmos no meio dela, agora que tenho mais tempo para me dedicar as coisas que gosto, ou seja, estou desempregado (rs), mas ao mesmo tempo essa escolha está me garantindo a paz que andava faltando no meu dia, ou o tempo para ter essa paz. Enfim sem prolongar mais vamos tratar de um tema voltado à espiritualidade nórdica no que se refere a criaturas e esta semana vamos falar daqueles seres indesejados e teimosos que não ficam em paz e resolvem voltar para atrapalhar a existência dos vivos.


Seu nome é Draugr, trata-se de uma alma penada, um fantasma, alguém que após o fim do seu ciclo biológico não conseguiu prosseguir naturalmente o caminho ao qual sua alma estava destinada. As razões para que uma criatura dessas permaneça no mundo dos vivos são variadas, seja por um rito funerário inadequado, seja por uma maldição, seja ainda pela ligação com assuntos inacabados ou mal resolvidos. A sua distinção costuma ser dada pelo local de sua morte, sendo os Draugar ligados ao solo ou ligados ao mar, isso se dava pela grande quantidade de mortos em alto mar, seja pelas guerras, por doença ou ainda por azar frente as gigantes forças da natureza.


O Draugr nãos e confunde com o espírito, mas é um corpo que fica para trás, portador das memórias e desejos e impulsos que moviam o espírito, uma alma "leve" dificilmente poderia ficar ancorada em tal cadáver e uma alma "carregada" com certeza dava toda a sorte para que seu cadáver pudesse permanecer entre os vivos, vindo inclusive a perturbá-los. Entre os Vikings era crença comum que o tesouro de um homem avarento seria guardado pelo seu cadáver, logo isso evitaria a violação do túmulo, mas não pelo altruísmo do cadáver em proteger o tesouro e a honra de sua alma, mas sim por ser tudo que restou ancorando o corpo sem vida ao mundo dos vivos.


As sagas contam que os Draugar tinham sua força e tamanho aumentados comparados com o corpo original, o que não é difícil de imaginar uma vez que se trata de uma criatura morta, sem terminações nervosas que possam causar cansaço ou fadiga ao corpo, a propósito não tenha o Draugr por um zumbi e sim por um fantasma e quando falo de um corpo não me refiro a carne e osso e sim ao perispírito que restou preso ao mundo dos vivos e que sempre esteve preso no corpo do dono quando vivo, como todos nós temos, a diferença é que com o falecimento do corpo físico este "segundo corpo" se desprende do material deteriorado e passa a entrar em decomposição com o tempo, dando sempre aos falecidos invocados por necromancia o aspecto pálido, doentio e cadavérico, mas isso é outro assunto.


Entretanto há um detalhe curioso, Thorolf da Eyrbyggja Saga era descrito como muito pesado, inchado como um boi de olhar pouco apreciável, o que me leva a crer que seu peso poderia se manifestar pela vontade do Draugr, mas ainda não se tratava de um corpo físico em si, e sim uma percepção sensorial do narrador da Saga. O que corrobora minha visão é a habilidade atribuída a estes seres de poder fluir pelas rochas como se pudessem mergulhar e atravessá-las, logo se o peso dele é físico não seria capaz de tal feito, sendo plausível uma variação da vibração de seu corpo tornando sua matéria mais ou menos densa.


Os métodos de um Draugr para aniquilar sua vítima vão desde a brutalidade “física”, passando pelo enlouquecimento da vítima pela influência do morto-vivo, até comer a carne e beber o sangue de sua vítima. A aura de entropia poderia ser tão forte que animais pequenos poderiam morrer na presença de um Draugr, a exemplo de Thorolf que de sua tumba matava os pássaros que voavam sobre ela apenas por sua mera presença, afinal a vida (agora artificial) ainda busca sua energia de alguma forma para sobreviver.


Dentre os relatos de poderes (trollskap) nas Sagas dos Draugr temos mudança de forma (normalmente uma foca, um boi esfolado, um cavalo cinza com uma pata quebrada, sem orelhas e rabo, ou ainda um gato que com seu peso dormia sobre o peito da vítima matando-a asfixiada); controle climático e até previsão do futuro. O Draugr Thrain se metamorfoseou em uma criatura felina (kattakyn) na Hromundar Saga Greipssonar.


Nos relatos fala-se da dificuldade em matar tal criatura, sendo por vezes até imune a armas. Recorria-se a um herói que fosse valente o suficiente para enfrenta tal criatura, então normalmente a cabeça dela era cortada, o corpo queimado e as cinzas jogadas no mar. Mas este era um método de remediar o mal e não de prevenir.


As formas de prevenção tinham como objetivo imobilizar o cadáver que por alguma razão desconfiassem que pudesse voltar como um Draugr, por meio de um par de tesouras de ferro cravadas ao peito do defunto e palhas e galhos eram colocados entre as suas roupas e nas solas de seu calçado para impedir o mesmo de se mover. Outra tradição que visava confundir o Draugr era levantar de deitar o caixão três vezes em três direções diferentes, para que caso levantasse o mesmo estivesse confuso e perdido.


O método mais eficaz de prevenir o retorno de um Draugr era uma passagem para o cadáver (corpse-door) na qual ele era colocado e após era lacrado com tijolos impedindo que o mesmo retornasse, a crença era a de que os Draugar só entram por passagens pelas quais já passaram anteriormente, neste caso sendo uma passagem involuntária, ele não poderia retornar. Essa crença provavelmente se iniciou pela Dinamarca e se espalhou pelos países nórdicos.


Na Eyrbyggja Saga os Draugar que estavam infestando a casa do islandês Kiartan foram dirigidos até uma passagem (doom-door), que funcionava como uma pequena corte, onde um a um eram convocados e eram sentenciados e obrigados a deixar o lar por meio deste método legal. Então a casa era purificada com água benta para certificar que não haveria retorno.


Como podem observar já se trata de uma influência cristã no caso da água benta, mas posso afirmar pelo que venho estudando de Galdr (magia) que a passagem e o julgamento são muito mais que mera tradição e tenham a sabedoria de não tomarem de forma literária as palavras aqui colocadas ou pouca coisa fará sentido, aos mais estudados já sabem como derrotar o inimigo.


Bom fica a dica.


- Heiðinn Hjarta

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Bragi - O Eterno Skald

"Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo". (Mário Quintana)


Boa noite aos vagos visitantes, leais leitores, caros comentadores e sinceros seguidores, este Blog hoje cumpre sua primeira etapa que é expor em um linguajar acessível, sem esgotar e sem ser acadêmico, todos os principais Deuses e Deusas da espiritualidade nórdica! Ainda no futuro falaremos dos deuses menos conhecidos, alguns heróis do passado e seres espirituais tidos pelo vulgo como mágicos. Mas este Blog é um espaço sobre arte, sabedoria e informação, eis três línguas que todo Skald deve saber.


Não é injusto um odinista começar sobre Óðinn, sua principal divindade, em seu Blog. Também menos injusto fechar esta etapa com chave de ouro falando daquele que guarda dos nórdicos o maior tesouro e não falo de guerra, não falo da terra, não é sobre mulheres, martelos, morte ou outros mistérios. Falo de uma magia, de palavras de sabedoria, chamada de poesia, que advém do elixir da inspiração e das coisas mais nobres que se guarda no coração. Falo hoje sobre o maior poeta, o primeiro Skald, sobre o deus Bragi.


Inicialmente ele é um integrante do Clã Aesir, um dos filhos de Óðinn e como é descrito por Snorri Sturluson em Gylfaginning: " Um é chamado Bragi: ele é renomado pro sua sabedoria, e mais pela sua fluência na oratória e habilidades com as palavras". E tem como mulher Iðunn. É descrito também que quando uma mulher ou um homem possuíam uma eloquência superior aos demais a sua volta, eram intitulados bragr-man ou bragr-woman. São keenings para ele como aparece no Skáldskaparmál (cujo texto a primeira parte é um diálogo entre Bragi e Aegir), marido de Iðunn, o primeiro a fazer poesia e o deus de barba longa.


Um fato interessante é que é atribuído o talho de uma runa na língua de Bragi, possibilitando a ele tamanha oratória e habilidade com palavras, outro fato interessante é que ele seria a divindade que mais beberia o nosso conhecido hidromel ou Óðrerir, que possibilitava aos deuses e homens se tornarem Sábios ou Skalds, desta combinação mais a eterna juventude de Iðunn, temos então os pontos básicos para a formação deste deus dos Skalds.


Devemos lembrar também que a Poesia tinha uma participação muito importante na cultura e sociedade nórdica, primeiro por ser uma forma de preservação e transmissão do conhecimento, também por ser uma expressão cultural refinada e igualmente por ser uma forma de demonstrar a sabedoria de uma pessoa dentro das coisas que conhecia em sua vida. Para se fazer poesia deve-se estar em paz consigo mesmo, do contrário de pouco será válida a inspiração.


Sua influência sobre os Skalds foi tamanha que seu nome se eternizou nos deles, a exemplo o primeiro Skald que se tem notícia chama-se Bragi Boddasson, O Velho, Skald que serviu ao menos três reis da Suécia (Ragnar Lodbrok, Östen Beli e Björn at Hauge) um texto que relata sua existência é o Ragnarsdrápa. Outras pessoas que tiveram seu nome foram Bragi Högnason e Bragi filho de Hálfdan, O Velho.


Por fim o rito escandinavo conhecido como Symbel ou Sumbl, que tem por sentido festa ou banquete, havia um drinking horn (um chifre de libação e brindes) chamado Bragafull que era considerado o mais sagrado, pois nele se faziam os juramentos solenes que deveriam de ser cumpridos sob pena de maldições recairem sobre a sorte dos promitentes, tamanha era a importância que se dava (e ainda deve ser dada) a uma palavra. Falar é fazer.


Enfim chego ao final desta primeira jornada, e esperoq eu me acompanhe na próxima para ver o que nos aguarda. Finalmente boa quarta :D


- Heiðinn Hjarta

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Iðunn - A guardiã da juventude.


Boa noite ao povo pagão! Leitores deste blog e meros curiosos, esta semana termino de expor as principais divindades da minha religiosidade, os Deuses e Deusas do Panteão Aesir e Vanir e também os mais importantes Jotnar. Com a vinda da primavera, tempo de renovação e de comemorar a vitória da vida sobre o Inverno é o momento de refletir sobre a divindade mais ligada a esta data, Iðunn a guardiã das maças que garantem a eterna juventude aos Deuses de Ásgarðr, então vamos aos seus detalhes.


A princípio sobre seu nome, Iðunn para aos olhos dos estudiosos estar ligada sempre a juventude. John Lindow descreve o significado de seu nome como "sempre jovem", Andy Orchard descreve o significado de sempre jovem e segundo a interpretação de Rudolf Simek é "aquela que rejuvenesce". O estudioso Jacob Grimm a liga com as Idesas ou as Disir pelo radical do nome, o que fará algum sentido conforme se mostra a seguir.


Sobre o parentesco de Iðunn e a que clã poderia pertencer nada é declarado nas eddas como participante evidente de um dos Clãs mas ela é casada com o deus Bragi um Aesir, filho de Óðinn o que poderia indicá-la como uma Aesir, entretanto seus traços ligados a juventude, renovação e fertilidade a tornam forte candidata ao Clã Vanir, um fato curioso é que um dos presentes que o Elfo Skrímir, servo de Freyr, leva até Gerðr para convencê-la a se casar com Freyr são as maçãs de Iðunn. Entretanto ainda há uma terceira visão que a encara como uma elfa ou descendente dos elfos, esse fato se dá no poema Hrafnagaldr Óðins nas Stanza 6 é dito que Iðunn é a mais velha das crianças de Ivaldi. Para quem não sabe, quando Loki desafiou os Anões Brokkr e Eitri a criarem um cabelo mais belo que o de Sif para ela, resultando em inúmeros artefatos criados para os Aesir entre eles o próprio martelo de Thor, eles se ofenderam em serem comparados com Ivaldi.


Iðunn em hipótese alguma nos lembra um anão (rs), logo é bem provável que Ivaldi seja um Alfr (elfo da luz) o tipo de criatura com a qual um anão (que é um "elfo da escuridão") não gostaria de ser comparado (dai a falta de amores entre anões e elfos nos contos fantásticos, pois os primeiros eram associados a luz e a beleza e os segundos a escuridão e a falta desta beleza), mas ainda levanto um apontamento final do parentesco dela. Indiferente da sua origem ela é de fato considerada uma Asynjur (Deusa) no Skáldskaparmál, o que pode nos levar a acreditar que ainda que seu pai fosse um elfo, sua mãe provavelmente não o seria. Pelos seus traços que deixa pela mitologia e suas associações tenho ela por uma Vanir, mas isso é opinião pessoal e que não muda muito as coisas, afinal precisamos de ambos os Clãs em nossa espiritualidade, assim como eles precisam de ambos os clãs para manter a ordem e a prosperidade.


Outro fato curioso é que o Skald Thorbiorn Brúnarson usa como keening em seu poema as maças de Hel, como o alimento efêmero do qual os mortos se alimentam em Hel, sendo então maçã um sentido não literário e sim poético que representa este alimento sagrado aos não "encarnados". Existem dois poemas dos quais ela tem participação altamente relevante são eles o Skáldskaparmál onde Bragi conta a Aegir como se deu o rapto de sua esposa pelo pai de Skaði e o Lokassenna onde Loki e ela trocam palavras pelas acusações que Lokif faz a ela e aos demais deuses no salão do Aegir.


Iðunn não é uma divindade cujo qual se tenha registro de cultos ou de datas que sejam dedicadas a ela, mas de fato ela tem um papel importante em manter a juventude dos Deuses, agindo de certa forma como uma guardiã da sorte desta juventude, como uma Disír. Seus ensinamentos estão mais na simbologia de seus mitos do que em cultos ligados a ela, o que na prática não a torna uma figura menos importante.


Espero que algo eu tenha acrescentado e que o conhecimento seja renovado e repassado, bom obrigado até amanhã.


- Heiðinn Hjarta.





sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A vitória renovada.


O vento gélido parou de soprar
O uivo do lobo não vai se prolongar
Os Trolls na escuridão foram se esconder
É o momento da Primavera reaparecer


A arte e a vida desabrocham na natureza
A luz do sol enaltece toda essa beleza
Para trás deve ficar qualquer dificuldade
É chegada uma estação de muita felicidade


A terra se alegra, suas flores dão as cores
Todos se deliciam dos frutos e seus sabores
Iðunn e suas maçãs retornam em segurança
A juventude dos Asa nos renovam a esperança


Busque o ar puro para se inspirar
Sente-se junto ao fogo para se alegrar
Sinta o frescor da água te aliviar
Deite-se na grama macia até o Sol raiar


Gerð se rende a busca do Senhor
Ele finalmente se alegra em seu amor
É o fim da angústia de Freyja no coração
Pois Heindallr retorna com seu colar em mãos


É o momento desta estação aproveitar
De novas sementes plantar e novos laços forjar
De reunir forças com energias renovadas
E seguir a vida com a alma purificada


Que os Aesir te tragam as ferramentas adequadas
Que os Vanir te deixem a terra preparada
Que os Jötnar fiquem em suas moradas
Que as Nornes te desejem uma boa jornada


- Heiðinn Hjarta

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Njörðr e Nerthus - Sobre a terra e sob o mar.


Boa noite caros leitores, agradeço o acompanhamento do blog e os elogios que estou recebendo, hoje estou quase encerrando a parte que trata sobre os deuses principais (os demais não são menso importantes, apenas menos conhecidos e cultuados), haverá mais um fim de semana e após ele começarei a tratar de expor as runas em um estudo aprofundado, para após estudá-las mostrar sobre a cosmologia e os demais seres que compõem o universo da espiritualidade nórdica.


Hoje vou abordar sobre duas divindades ambas, ao meu ver, do clã Vanir, mas historicamente comprovado só uma delas. São estas divindades Njörðr e Nerthus, vou desmistificar algumas confusões e explicar não só mitologicamente mas o sentido de cada divindade e mostrar as evidentes diferenças entre os Aesir e os Vanir por meio destas divindades.


Njörðr é uma divindade Vanir, pai de Freyr e Freyja, com sua irmã cujo o nome nos é desconhecido (teoricamente), em uma das Eddas se casa com Skaði, quando esta busca o mais belo homem pelos pés e o casamento da Jötunn com o Vanir não foi bom para nenhum dos dois, a distância dela das montanhas e a distância dele do mar não torna possível prolongar esta união, resultando numa separação sem maior rancores de ambos. No poema Sólarljóð é dito que Njörðr possui nove filhas sendo a mais velha Ráðveig e a mais nova Kreppvör (79 Stanza), ainda há um local dedicado para ele chamado Nóatún. Ele como toda divindade Vanir carrega o aspecto da fertilidade ao ser lembrado como a divindade a qual os pescadores recorrem para terem um mar calmo e uma pescaria abundante, ele também é considerado sábio, como toda divindade Vanir é considerada e está ligado a saúde. Njörðr foi cultuado no século 18 e no século 19 ainda pelos pescadores para manter as pescas em abundância.


Sobre a deusa Nerthus esta é associada a fertilidade, e segundo Tácito no texto Germânia era venerada entre as tribos germanas dos Reudigni, Aviones, Anglii, Varini, Eudoses, Suarines e os Nuitones todos nomes estes dados por Tácito. Esse traço comum de culto demonstra o poder e a influência que Nerthus alcançava em diferentes tribos vizinhas, o que nos leva a entender que ela possui um papel importante entre as divindades dos Germanos, seu culto sobreviveu entre os Anglos (Anglii) num ritual chamado Aecerbot que era utilizado para cura e melhoria da terra a ser cultivada. Jacob Grimm identificou Nerthus como Erda, Erce, Fru Gaue, Fjörgyn, Frau Holda e Hluodana, já Hilda Ellis Davidson têm feito paralelos entre Nerthus e Njörðr.


Sobre ambos serem a mesma divindade. Acredito ser claro e óbvio que Nerthus e Njörðr não são a mesma divindade, o fato fica claro e óbvio em dois casos, primeiro Nerthus esta associada a fertilidade da Terra diferente de Njörðr que está associado a fertilidade do mar, segundo se Njörðr fosse uma mulher, logo Skaði não teria casado com ele, a menos que o homossexualismo/lesbianismo fosse uma prática entre os Gigantes e eu acredito, não sei por qual razão rs, que não é o caso. Por fim, Njörðr tinha uma irmã e era um segredo que ele e ela eram um casal que tiveram filhos sendo esses Freyr e Freyja, logo a menos que Njörðr representasse o inicio da reprodução assexuada entre os Vanir seria indispensável a existência de um polo feminino para a concepção de Freyr e Freyja.


Ainda para matar qualquer suspeita, existe uma integrante do clã Jötunn chamada Jörð, e sim um mero "N" faz toda a diferença, a mãe de Thor não é uma Vanir e ela representa a Terra, então qual a diferença entre Nerthus e Jörð? Simples a primeira representa a terra em seu poder de fertilidade, o verde da terra e sua capacidade produtora de frutos e curativa também, já a segunda representa o elemento terra, a sua força e sua resistência, algo mais rústico e primitivo, arquétipos de diferentes finalidades. Então a quem gosta dos Vanir eu sugiro claramente que o panteão já tenha por certo essas quatro divindades, Njörð, Nerthus, Freyr e Freyja, futuramente farei estudos aprofundados e vou expor demais teorias e lógicas, espero que esse texto tenha sido produtivo e proveitoso para vocês, uma boa noite e até Sexta!


- Heiðinn Hjarta



terça-feira, 20 de setembro de 2011

As nossas "muitas" tribos.


Boa noite caro leitor, começo de semana bem atribulado mas finalmente um pouco de paz para escrever, rs. Abordarei hoje sobre os mais conhecidos "átrus" que tem se ramificado da grande árvore do neo/paganismo nórdico. O objetivo é demonstrar os vários caminhos que nossa fé tem percorrido e tem concretizado ao longo dos tempos, creio que alguns grupos aqui são bem desconhecidos da maioria, uma ocorrência normal, levando em conta a liberdade dos kindreds e a falta de uma visão unificada dentro do neo/paganismo. Essa falta de unidade nos garante uma liberdade mas nos priva de uma identidade mais coesa resultando muitas vezes numa fragmentação por diferentes interpretações de um mesmo assunto, algo que reflete bem o aspecto tribal dos antigos povos, onde um mesmo deus era adorado com nomes diferentes por tribos diferentes ou de forma diferente, mas mantendo um nicho comum entre ambas. Enfim escolhas que nós fazemos e com as quais nós arcaremos.


Forn Siðr - O "Velho Costume" é um termo usado por grupos escandinavos para se referirem a cultura e religiosidade nórdica pré-cristãs, visto não só como a sua atual espiritualidade mas uma forma de encarar a vida também. Forn Siðr também é o nome mais divulgado para representar a sociedade pagã dinamarquesa desde que conseguiram oficializar o paganismo nórdico como uma religião em sua nação em 2003 podendo conduzir cerimonias de casamento, funerais e outros ritos. Dentro dele evoluíram o Asátru/Vanátrú que veio conquistando espaço nas nações europeias oficializando a religião junto aos Estados e consequentemente as suas respectivas sociedades, também é a ramificação mais conhecida do neo/paganismo nórdico e a criadora/codificadora das 9 nobres virtudes.


Um problema que evoluiu desta crença foi o surgimento de grupos que decidiram por se focar exclusivamente em um panteão específico, alterando assim todo o conhecimento e interpretação para apenas aquela forma de pensar sem seus necessários complementos. Logo surgiu o culto estrito só aos Aesir ou só aos Vanir, ou ainda só aos Jötnar, me pergunto se a guerra Aesir-Vanir e os casamentos e relacionamentos com alguns Jötnar não ensinaram nada a essas pessoas.


Um fenômeno recente também dentro do Forn Siðr é o Rökkatrú, uma fé neo/pagã baseada no culto aos Jötnar, as forças primordiais e caóticas, seu panteão é composto por gigantes do fogo, do gelo, da água, dos ventos e dos mares, também possuem suas 13 regras, (como se 9 já não fossem o suficiente, rs) e possuem como seu panteão principal Hel, Fenrir, Jörmungandr, Níðhöggr, Angrboða e Loki, acredito que esta ultima ramificação do Forn Siðr seja resultado de dois problemas que ocorrem atualmente.


Primeiro a falta de comprometimento com uma busca pelas tradições e raízes ao se realizar treinamentos aos Goðar, como uma classe sacerdotal separada (coisa que só foi existir na Islândia até lá qualquer chefe de família podia assumir esta função fosse homem ou mulher). Segundo o espaço aberto ao Vanatrú, focando numa veneração só aos deuses Vanir, o que é um erro brutal, também foi porta de entrada para muitos wiccanos dentro da fé. Por fim, o efeito "lokeano", talvez uma resposta ao Odinismo, onde neopagãos dedicam culto exclusivo a Loki. Assim como resultado temos esses "filhos não reconhecidos" do Forn Siðre a reação dos integrantes da Asatru-Vanatru em relação ao Rökkatru vão desde ignorar a existência do grupo até o repúdio pela escolha feita por essas pessoas.


Particularmente consigo facilmente observar um motivo para haver três clãs que juntos compuseram o grupo de divindades nórdicas cujas quais cultuamos, a guerra entre os Aesir e os Vanir foi necessária pois que com o contato de ambos os clãs tanto a forma de pensar como de viver encontraram um equilíbrio nos seus aparentes opostos. De um lado temos os alegres e prósperos Vanir despreparados para qualquer ambiente adverso que viesse a destruir essa prosperidade, fertilidade e felicidade, do outro lado temos os Aesir conquistadores, sobreviventes e impositores de uma estrutura social que só pode proporcionar prosperidade em meio a paz, paz essa alcançada com os Vanir pela troca de divindades e paz essa que permitiu a ordem Aesir proteger e perpetuar a prosperidade Vanir. Até mesmo os Jötnar tem um papel importantíssimo ao formar o caráter adverso que testa continuamente os clãs e deuses em sua capacidade de sobrevivência e evolução, bem como ensina ao homem o poder devastador, mas também construtor da natureza, fazendo de deuses e deusas heróis e exemplos para seu povo.


Escolher apenas um caminho é esquecer e ignorar o que esses três caminhos proporcionaram de sabedoria aos ancestrais e que podem vir a nos proporcionar, mas a liberdade está para ser usada com sabedoria e cada qual vai traçar seu caminho e colher os frutos do que semeou para si e para os demais.


Até quarta-feita.


- Heiðinn Hjarta

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Baldr e Höðr - O sacrifício de um Deus.


Boa noite caro leito, seguindo o tema de sacrifício e buscando entender um pouco mais sobre a visão do neo/paganismo nórdico hoje chamarei atenção para dois deuses, amigos e inimigos, irmãos e desconhecidos, de uma mesma mãe, mas descendentes de reis diferentes, seus nomes? Baldr e Höðr, anglicanizado Balder/Baldur e Hod/Hoder/Hodur ou ainda nos nomes de Balderus e Hötherus.


Sobre a primeira figura, trata-se do brilhante, belo, amado e carismático Baldr, associado a luz, filho de Frigg e Óðinn, que desde cedo é protegido por sua mãe quando esta faz todas as coisas que pudessem fazer mal a Baldr jurarem que nenhum mal o fariam, exceto por um pequeno e inocente visco. Baldr é casado com Nanna, e desta união nasceu o deus da justiça Forseti, Baldr reside em Breidablik (Brilho amplo).


Quanto a Höðr o mesmo é na mitologia irmão de Baldr e é um deus cego, não era tido por frágil mas também não o tinham por combatente., muitos são os keenings para ele tais como, Deus Cego, Assassino de Baldr, Arremessador do Visco, Filho de Óðinn, Companheiro de Hel e Inimigo de Váli (Váli é o filho de Óðinn que vingou a morte de Baldr matando Höðr).


No Gylfaginning é narrado que após a morte de Höðr o mesmo vai para Hel, bem como Baldr e Nanna, logo fica a primeira reflexão, se Hel é um lugar tão abominável assim por qual razão três Aesir (Höðr, Baldr e Nanna - que morre de tristeza pelo falecimento do marido) vítimas do destino estariam lá? Segundo, Frigga conhecida por tudo saber não pode prever tal desgraça, ou se quer evitar apenas minimizar, o próprio Óðinn já sabia por meio conjuração por necromancia da Völva que seu filho teria um fim terrível e o próprio Baldr avisou de seus sonhos para seu pai. Era algo inevitável, mas por qual motivo ele foi fadado a morte? Por um sacrifício e ai segue a explicação.


Höðr nunca teve algo contra seu irmão, o fato de ser cego e não enxergar a luz que seu irmão irradiava não o tornava desgostoso dele. Diferente do que é narrado de Loki que tinha inveja, natural de uma divindade que gosta de ser o centro das atenções, mesmo quando tenta fazer tudo passar despercebido. A exposição a qual Baldr se coloca deixa claro um único aprendizado, há um equilíbrio e há um destino, e nada pode suplantar estas leis. Baldr na sua figura de invencibilidade era um desequilíbrio óbvio nas forças da natureza, ao passo de que nenhum gigante seria capaz de derrota-lo e nem o fogo mais ardente de Surtr poderia se quer bronzear a pele de Baldr, ao mesmo tempo tomá-lo por intocável seria dar aos deuses a certeza da vitória, quando no fim o que restou foi um equilíbrio.


Seu irmão cego, nada mais foi que um instrumento das Nornes cumprindo o destino dos deuses, então neste prisma o assassinato de um ato de traição se revela nada mais do que um sacrifício pelo equilíbrio da natureza e dos rumos que o destino deveria percorrer. E como o próprio Óðinn deixa escrito, é melhor não pedir do que pedir demais, mas mesmo assim Frigg pediu a todos os seres pelo bem de um único ser. Quem dirá que a mãe está errada em proteger o próprio filho? Quem dirá que aquela que tudo sabe e nada fala não agiu em plena ignorância ao desconsiderar o visco? São essas imperfeições de nossas divindades que nos aproximam deles e eles de nós, e falando nisso...


Um antigo historiador dinamarquês, Saxo Grammaticus (Saxo, o Literário) em sua obra Gesta Danorum (O feitos dos Dinamarquêses) contendo seis livros escritos em Latin falando da história e dos heróis da Dinamarca, Estônia e Latvia, fala de Hotherus como um herói humano dinamarquês que deseja ter a mão de Nanna, filha do rei Gevarus. O rei daria a mão de sua filha de bom grado se ela já não fosse desejada por Balderus um semi-deus invencível, mas que conhece uma arma que poderia derrotá-lo guardada por Miming, um sátiro da floresta (o que os romanos tinham por elfo), nesta interessantíssima narrativa os deuses são bem mais humanos, figuras que batalham entre si e se associam a reis e revelam uma diferente intepretação para o tradicional conto mitológico.

Indiferente da natureza divina ou mortal destes irmãos ou a quem se atribui a correta moralidade, o fato é que não eram divindades largamente cultuadas talvez pelo seu aspecto mais mitológico e familiar. Cabe a nós entender o conto da mitologia e trazer para nossa vida a lição de que lutar contra um destino fiado e forçar o desequilíbrio para evitá-lo, cedo ou tarde trará sobre nós uma dor maior do que se o caminho naturalmente tivesse sido percorrido, a natureza é o melhor professor que temos.


Baldur em todo seu brilho foi mais cego que seu próprio irmão.

Até sexta-feira.


- Heiðinn Hjarta

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um sacrifício de bom grado.


Boa noite nobres visitantes, curiosos, seguidores e leitores, segunda-feira difícil mas enfim em casa. O tema de hoje aborda sobre como se dão os sacrifícios no neo/paganismo nórdico e também explica como o sacrifício é encarado, então ao trabalho.


O sacrifício como o conhecemos é normalmente observado como algo feito a contragosto, um esforço penoso, abrir mão de uma situação para poder se beneficiar, ou não se prejudicar, em outras palavras é um ato de altruísmo, abnegação e renuncia em favor de outrem. Neste ponto de vista entendemos que o sacrifício é feito para alguém e nossos sacrifícios são feitos para nossas divindades e para nossos ancestrais, entretanto não de forma penosa, afinal se abrimos mão de algo em respeito a eles ou se oferecemos algo para eles, em hipótese alguma deve ser feito de má vontade, deve ser feito de coração aberto como um presente que se dá a alguém querido, ou se for algo difícil de cumprir, que seja assim feito pelo grau de respeito que se dá ao sacrifício e a quem se beneficia dele, mas o interesse próprio é sempre secundário frente a quem se presta o sacrifício.


Superada essa observação inicial vamos entender como se tratava e como se trava o sacrifício em nossa senda. Nos tempos antigos as tribos germânicas faziam vários sacrifícios em forma ritualística para alcançar inúmeros objetivos, uma boa colheita, uma vitória em campo de batalha, afastar doenças, almas penadas, agradar os ancestrais e os deuses e apaziguar a ira deles quando pelas condições que se apresentavam, pareciam recair inúmeros males sobre o povo, o sacrifício também poderia ocorrem para fins mágicos, geralmente envolvendo maldições contra pessoas.


Utilizavam-se em sacrifícios inúmeros materiais, tais como minerais, vegetais, animais (em particular porcos e cavalos), objetos manufaturados aos que se davam importância, pessoas (geralmente enforcadas, voluntárias ou não e importantes ou não, em alguns casos o próprio Rei era sacrificado), sangue (seu ou dos outros) e atos em forma de sacrifício. A forma poderia ser pacífica, ou bem intensa e violenta, ocorriam desde da morte de um guerreiro nobre junto das suas posses até um grande sacrifício sazonal envolvendo todo o Clã em honra aos deuses, mas sempre feito de forma sincera.


Hoje temos no neopaganismo nórdico mais comida e festejo e menos sangue (a menos que a carne esteja mal passada rs). Chamamos de Blót hoje, o sacrifício ritualístico realizado em um local sagrado, previamente preparado para o rito ou naturalmente sagrado, podendo ser feito de forma individual ou coletivamente, sendo parte de uma celebração mais complexa ou apenas em sua fase exclusiva. Assim como as tribos nórdicas e germanas tinham cada uma sua forma de realizar esses sacrifícios, não será surpresa que kindreds diferentes sigam ordem diferentes para realizar o Blót, mas geralmente eles são acompanhados do banquete ritualístico chamado Sumbl, outra característica marcante é que os Blóts na metade fria do ano (Outono e Inverno) costumavam se dar em ambiente fechado em familiar, já os da metade quente do ano (Priamvera e Verão) se davam em meio a natureza.


Sobre os Blots mais conhecidos, em forma resumida e simplificada, temos os seguintes:


Winternaettr - Noites de Inverno, ligado a necromancia, criaturas sobrenaturais e o começo da Caçada Selvagem;


Alfablót - realizado para os Alfár (elfos) e de caráter extremamente familiar, dificilmente havendo convidados de fora da família;

Disablót - realizado na primavera em honra as Disír, esperando se propiciar melhor sorte ao clã, aos integrantes do clã e a melhora da colheita.;


Sömármál - realizado durante o verão em honra a estação e a vitória, marcado por alegria, danças próximas a fogueira e pela comemoração da aproximação do verão;


Haustablót - Sacrifício de outono onde se dará a preparação para a estação mais rigorosa que é o inverno, trata-se de um momento de reflexão e de armazenar forças para os tempos difíceis que se aproximam;


Ainda há blóts ligados a deuses específicos sendo os mais famosos os ligados a Thor e a Freyr, mas mais uma vez vale lembrar que isso não é regra cada clã fará seus blóts da forma que for adequado a suas crenças.


Trata-se de um tema complexo que envolve um melhor aprofundamento, mas pode-se ter como uma noção inicial e buscar se aprofundar no significado de cada blót e nos locais onde devem ser praticados.


Segue o link do site o Troth onde é abordado sobre o tema, texto de autoria de Vagner Cruz.


Bom começo de semana e até quarta-feira!

- Heiðinn Hjarta

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A lança que não é balança.


Boa noite amigos leitores, ja é quase sexta-feira e eu me esquecendo de postar no blog, culpado seja o feriado! E tudo que ele trouxe de bom, rs. Bom sem mais enrolação, começaremos a abordar divindades menos conhecidas e temas mais aprofundados, logo aqueles que desejam um conhecimento mais aprofundado poderão observá-lo nos futuros temas do blog, mas manterei a linguagem acessível aos menos informados, assim todos tem oportunidade de aprender e desvendar mais coisas.


A divindade de hoje a ser apresentada é Forseti, deus ligado a justiça e reconciliação, sim já devem estar se perguntando sobre Tyr, isso também será abordado, mas vamos passo a passo. Então esta figura pouco lembrada ou cultuada é responsável por um dos aspectos mais importantes da vida social de um povo, ele é responsável pela justiça, sempre buscando reconciliar os descontentes ao invés de sentenciar punindo arbitrariamente. Trata-se de um Aesir, filho de Baldr e Nanna, seu nome significa no nórdico antigo, "aquele que preside" pois era invocado a presidir a corte onde eram feitos os julgamentos, as negociações, a arbitragem, a reconciliação e a paz, enfim um regente das leis, tanto para os deuses quanto para os homens.


Sua descrição o coloca como um jovem loiro, amistoso e luminoso, como seu pai, e vivia em Glitnir, um grande salão com pilares de ouro e teto de prata onde resolvia os problemas sempre buscando a reconciliação ao invés de uma punição que desagradasse um lado e agradasse o outro. Entre os Frísios havia uma divindade chamada Fosite com mesmos parâmetros de influência na sua sociedade, dada a proximidade com os povos germanos e com a região da Dinamarca podemos estar falando da mesma divindade.


Geralmente quando falamos em justiça lembramos de Tyr, por ser um exemplo de comportamento e por sua coragem e por sempre fazer o que julga correto, mas Tyr não é um juiz, mas sim um justiceiro, traz vitória mas não significa que trará harmonia, já Forseti é a divindade que busca essa mediação, devemos lembrar o quão importante era para a sociedade nórdica a questão da harmonia social, resolver tudo em pancadaria não daria paz a ninguém, logo prevalecia o bom senso e essa divindade era invocada por sua sabedoria.


Existiam muitas formas de se fazer justiça na sociedade nórdica, a mais famosa era o Holmgang, que por meio de duelos sagrados onde a vitória era dada aquele que então passava a ser considerado a pessoa com razão na questão, dai a ligação de Tyr com a justiça e a vitória, a exemplo desta forma de duelo em busca de justiça temos Egill Skallagrímsson contra Berg-Önundr, eram casos onde não cabia conciliação.


Da mesma forma podia se fazer justiça durante uma þing (assembléia) diante de um/uma Lawspeaker/Lögmaðr/Sögmaðr, trata-se de uma pessoa sábia e conhecedora das leis que detinha uma voz de autoridade nessas assembleias, a exemplo temos Þorgnýr Lögmaðr que reconciliou dois reis após uma guerra e ainda casou seus filhos.


Logo numa sociedade em que juramentos, condutas honrosas, devoção a ancestralidade, preocupação com o que se deixa para os descendentes e a busca por harmonia e paz para propiciar prosperidade, a justiça feita a maneira correta tem um papel fundamental, incluindo uma divindade que busque essa mediação, tarefa que cabe ao sábio Forseti.


Bom, era o que tinha para ser falado, caso encerrado.


- Heiðinn Hjarta

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Assembleias e altares.


"We don't need your hypocrisy
Execute real democracy
Post-industral society
The unthinking majority"

The Unthinking Majority - Serj Tankjan


Boa noite atento leitor, esta Segunda-feira será de um tema que adentra a vida de todas as pessoas, não importa sua cor, sua fé, sua origem e muito menos seu destino, este problema está em todos os cantos do mundo, falo de algo que por muitos de nós nem existiria, falo de política.


Desde que o homem esqueceu o peso de uma clava em sua cabeça e passou a dialogar a política tem feito parte de nossas vidas, reflexo do contrato social que nós vivemos de liberdade limitada para um bem coletivo. Pois que essa liberdade representa interesses e esses interesses representam a maioria e a politica está ai para representar a maioria e seus interesses... MENTIRA!


Um belo dia, num passado distante, pessoas idealistas, loucos sonhadores, heróis de minorias ou ainda de maiorias oprimidas, representaram a opinião de seu povo, mas o ser humano aprendeu muito bem a iludir o próximo e alcançar um grande numero e com esta grande força fazer um grande estrago, ambas as guerras mundiais estão ai para provar o argumento e a infinidade da imbecilidade humana. Os vermelhos falam de proteger o povo em uma igualdade, quando suas cúpulas não se igualam a ninguém pois só elas detêm liberdade de escolha, os azuis preferem dar espaço a exploração do homem pelo homem, fazendo no processo de liberdade de aquisição escravidão com o próprio irmão, os superiores ainda teimam em se considerarem tão bons que tudo que fazem precisa em maior ou menor escala dos inferiores, seja por produção, seja por consumo.


Mas o pesadelo até seria tolerável, se essas malditas assembleias de farsantes e hipócritas com tentáculos de um Kraken pútrido e ambicioso não alcançassem a nossa fé. A fé pressupõem uma busca pelo divino, pelo sagrado, pelo verdadeiro. A política é um grande faz de conta onde eu digo que te represento e você diz que acredita e que em segue e então estamos todos felizes.


Misturar a perfeição do sagrado com a imperfeição da sociedade humana é dar um tiro no próprio pé, eis que vivemos esta realidade, a exemplo bancadas que defendem direitos evangélicos batendo de frente contra uma parcela da sociedade que defende os direitos homossexuais, enquanto isso temas como segurança, saúde e educação, realmente vitais para o desenvolvimento de um lugar e um futuro melhor para nós passa desapercebido ou em segundo plano.


Enquanto a sociedade expressa claramente seu apoio aos índios que serão prejudicados pela construção da usina Belo Monte (de M3rD@) , assim como o descontentamento da alteração do código florestal os nossos representantes se calam e recebem o seu no final do mês. Um palhaço, todo respeito a profissão, representa um estado no qual ele nem nasceu e mal conhece seus problemas. Milhões são injetados em construções para um evento esportivo que simplesmente só demonstra irregularidades fiscais, trabalhistas e falta de planejamento futuro. Políticos condenados pela opinião pública por sua conduta imoral no passado voltam ao cenário nacional ovacionados por fanáticos insanos que preferem ser um partido ao invés de uma nação, pois "só eles são trabalhadores". Isso tudo falando só do Brasil, não me estenderei ao resto do mundo que estão tão lamentável quanto...


Pois bem, algo de muito engraçado ocorreu este fim de semana, após um show de uma banda na cidade de São Paulo irrompe um tumulto entre facções de pontos de vista diferentes e resulta em feridos e na morte de uma pessoa. Pensei que os políticos estivessem ai para representá-los, é mas parece que eles se matam por quem nem presta atenção neles, isso se eles estão se matando por isso e não por simples vontade de mostrar quão irracionais pode ser...


Nunca na história misturar a fé com a política trouxe bons frutos, não vamos repetir o erro de uma sociedade que viveu uma Idade das Trevas divida entre Cruzes e Coroas, não vamos permitir que as "inúmeras facções do neo/paganismo nórdico" destruam a nossa unidade nos Deuses. Mesmo os Aesir e Vanir guerrearam e encontraram paz por meio de uma união, pois nenhuma visão pode ser absoluta e isso é algo natural é essa mistura que ria a harmonia e o equilíbrio. Meus pêsames aos "Nazitru", "Vanatru" ao povo do "Rökkatru" e as tantas demais divisões que vêem surgindo no meio de nossa fé, já não bastasse a opressão de uma sociedade monoteísta e os simpáticos "vizinhos" verdes (ou por vezes rosa) e místicos, temos que aturar esse povo também em nosso meio.


A pergunta é simples, se você busca através dos deuses a liberdade para ter paz na sua vida, por qual razão você vai se submeter aos caprichos de uma opinião humana?


Para mim não faz sentido algum, mas talvez faça para você. Se assim o for seja um submisso feliz, aproveite e vá louvar o tirano todo poderoso, ele deve ser um deus melhor para você.


Ao sábio leitor, sabe que essa palavra não se dirige a você, mas a maioria não pensante que nos cerca.

No dia 07 de setembro de 1822 é comemorada a Independência do Brasil, nessa hora eu me pergunto que independência deve ser comemorada.


Uma boa semana e até o feriado.


- Heiðinn Hjarta.



quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Heindallr - Um olhar sobre horizonte.


Boa noite senhoras e senhores, atentos leitores, nesta quarta-feira a noite, cabe a mim descrever uma divindade, e escolhi/escolheram uma bem peculiar, aquela que trouxe presentes a humanidade, que estruturou a ordem de castas nela, que mantinha seus olhos sobre o esguio Loki, que estava na primeira linha de frente de Ásgarðr, o mais alvo de todos os Asa, possuidor do cavalo dourado Gulltoppr e o possuidor do famoso Gjallahorn. O sempre alvo, sempre sério e sempre observador Heindallr.


Heindallr se encontra na ponte Asbrú (Ponte dos Aesir), ou mais comumente chamada de Bifröst, a ponte arco-íris que da acesso entre Miðgarðr (Reino dos mortais) e Ásgarðr (Reino dos Aesir), esta ponte termina no salão de Heindallr chamado Himinbjörg, de onde a protege dos Jötunn. Por lógica podemos associá-lo ao Clã Aesir, bem como por compartilhar marcantes características desta família divina tais como estar sempre pronto para o combate, sua lealdade em guardar o reino, a proteção que proporciona, a coragem de fazê-lo sozinho... Entretanto, alguns estudiosos atestam que ele é integrante do Clã dos Vanir, vou manter a interpretação inicial expondo sempre motivos lógicos para tal.


As variações de seu nome são Hallinskiði, Gullintanni, Vindlér e a mais importante de todas Rígr. Nesta ultima variação, ele é conhecido como Rígr, velho, sábio, forte e grandioso. Ele passa pela terra e encontra três casais, com os quais come, se deita e após nove noites a esposa do casal da luz a uma criança. O primeiro casal eram camponeses sendo o marido Ái e a esposa Edda, nascendo um filho de pele escura chamado Þraell (servo). O segundo casal eram Afi e sua esposa Amma, que receberam o deus com provisões melhores, e após dormir entre eles se seguiram nove noites até o nascimento de Karl (homem-lívre), por fim o ultimo casal, realmente abastado vivendo em uma mansão, eram Fáðir e sua esposa Moðir, e após ser muito bem recebido, se deitou entre eles e nove noites após a esposa deu luz ao seu filho Jarl (nobre). Esse conto pode ser encontrado com maior riqueza de detalhes no Rígsþula.


Outra importante aparição de Heindallr nos contos é quanto ao sumiço do Mjölnir de Thor, que após pensarem em várias formas de recuperá-lo, frente a deusa Freyja, que era a moeda de troca exigida pelos gigantes, Heindallr sugere que Thor se vista como Freyja e junto a Loki vão recuperar o sagrado martelo. O detalhe interessante é a comparação que se faz entre Heindallr e os Vanir neste momento, pois antes que ele diga sua estratégia é mencionado que ele sabe o futuro tão bem quanto os Vanir, o que de alguma forma poderia criar esta conexão com o Clã, também seu comportamento de sair dormindo em meio a outros casais, rs.


Finalmente, em sua eterna vigilância Heindallr observa o mundo e vê Loki tentando roubar o colar de Freyja enquanto esta dorme, neste momento ele parte em busca de Loki e apos uma grande perseguição surra o deus Loki até entregar o colar Brisíngamen, deste ponto em diante tanto Loki quanto Heindallr criam um desafeto mútuo que só se resolverá no Ragnarökkr com a morte de ambos um pela mão do outro, ou assim dizem os contos.


Sobre seu parentesco, no nome de Vindlér é possível ligá-lo como um dos filhos de Óðinn, entretanto ele é filho de nove mães, e agora vem o mistério. Em um texto antigo é dito que nove gigantas dão origem a um poderoso deus, sendo as nove gigantas Gjálp, Greip, (as duas Gigantas que duelam contra Thor) Eistla, Angeyja, Ulfrún, Eyrgjafa, Imðr, Atla e Járnsaxa (a mãe de um dos filhos de Thor chamado Magni). Exitem também as nove filhas de Aegir (o gigante do mar) e Rán (responsável pela morte dos náufragos), e as mães de Heindallr são apresentadas por serem ligadas ao mar, então a coisa começa a fazer algum sentido, e são seus nomes Himinglaeva, Dúfa, Blóðughadda, Hefring, Uðr, Hrönn, Bylgja, Dröfn e Kólga. Neste caso cria-se uma hipótese um pouco cômica, se as nove filhas de dois gigantes são gigantas e se uma delas é mãe do filho de Thor, de duas a uma, ou Thor é irmão de Heindallr ou Óðinn não perdoou nem as suas noras, rs.


Resumindo, e voltando a falar sério, Heindallr pode ser interpretado como uma divindade observadora, de natureza oposta a de Loki, trazendo ordem onde seu rival trouxe caos, observando tudo que se passa mesmo se feito por aquele que ninguém observa. É uma divindade que cria uma estrutura social entre os humanos, erigindo assim pilares para uma sociedade dividida em castas, também esta ligado a lealdade e a honra pelos seus próprios atos, sendo provavelmente uma das divindades mais ordeiras, ainda que sua origem pareça um tanto quanto caótica, logo se as coisas andarem confusas em sua vida e precisar que alguém olhe para você, tenha certeza que Heindallr o fará sem piscar, rs.


Até Sexta-Feira!


- Heiðinn Hjarta.







terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sobre Friðr e o motivo por estarmos aqui.


Muito bem, boa noite povo de todos os cantos. Eu infelizmente não estava bem para escrever na Segunda-feira como de costume, problemas de ordem pessoal, mas que rumam para uma solução. Hoje após observar certos comportamentos, atitudes, pensamentos e informações decidi falar sobre algo que muitos odinistas e asatruares desconhecem ou, se conhecem, ignoram. Então minha batalha contra desinformação agora chega em um tópico da mais alta relevância, cerne do motivo de nossa fé, o coração pulsante que liga todas as veias dando vida a nossa fé, vou falar sobre o Friðr.


A princípio do que se trata essa palavra? Do nórdico antigo Friðr é um substantivo que tem como sinônimo a palavra paz. Entretanto, seu significado e importância vão muito além de três letras, mesmo se originando, primariamente, de três fontes, explicarei. Friðr é uma necessidade cuja a qual todos os povos e seres desejam alcançar, é a harmonia consigo e com tudo que o cerca, é viver em plena felicidade, em paz, pois na paz surge a ordem e a ordem propicia a prosperidade.


A paz, a ordem e a prosperidade não são fonte do Friðr, mas suas consequências. Quando nos referimos que Thor é uma divindade que propicia paz e prosperidade quando está com seu martelo "descansando" é pela razão de ter concluído seu trabalho até aquele ponto, isto é afastou as dificuldades e os perigos por um período da humanidade, que poderá prosperar em paz e ordem, logo daí fica difícil alcançar o Friðr em meio ao caos e a desordem, daí que Lokeanos de primeira viagem acabam fugindo aos propósitos da fé no neo/paganismo nórdico.


Sendo o principal objetivo de nossa fé o Friðr é essa tão desejada harmonia com o todo cujo qual devemos de nos esforçar para buscar durante nossas vidas, tanto para nós como permitir que outros ao nosso redor a alcancem. Exitem três fontes das quais o Friðr emana, pois são essas três formas que possibilitam a humanidade essa harmonia e suas consequências.


A principal se tratava da família, do kindred, do clã e dos demais parentes, havendo essa união e harmonia dentro deste grupo social, consequentemente todas as famílias de uma tribo prosperam essa tribo, por isso ai a importância dos kindres, clãs e da unidade familiar, ai está a importância para a sociedade como um todo do respeito a família, pilar de qualquer sociedade. Mesmo no plano divino pode-se observar os três clãs e dentro deles, e entre eles, as diversas famílias.


A segunda se trata da lealdade, isso se traduziu muito nas relações medievais entre suseranos e vassalos (palavras hoje muito mal interpretadas), também se pode observar na importância que se dá a palavra e aos juramentos, falar é fazer, não seria preciso assinar um papel se as pessoas confiassem entre si, palavras que nãos e traduzem em atos são apenas mentiras. Então você vale tanto quanto a sua palavra, pois esse é o seu valor dentro da fé.


Por fim, a nossa ligação com nossa fé, a nossa sinceridade para com ela, nossa devoção em estudar, conhecer, buscar, aprender e ensinar aos interessados nela. Não se trata de proselitismo monoteísta, estou me referindo a não escutar uma banda de viking metal com um martelo no pescoço e falar por ai que é odinista ou asatruar, estou falando de buscar por um blós ou um sumbl, lembrar as datas, deuses e heróis, ajudar aqueles que buscam saber e saber mais para melhor ajudar.


Observe que na sociedade em que vivemos aqui no Brasil a família é uma instituição cada vez mais decadente, os laços familiares são mais oportunistas do que sinceros e acolhedores, observamos também a falta de amor a própria terra e aos próprios costumes, afinal se nem uma família vai bem quanto mais um país inteiro? Não falo de uma pseudo base para pensamentos fascistas, integralistas ou nazistas, falo de um fato, se seu respeito pela sua família é duvidoso, não espere ser respeitado pelos seus descendentes e se eles não respeitam nem seus ancestrais, quanto mais os estranhos.


Sobre a palavra, no Brasil convivemos com a corrupção, com a descrença nos bons atos e na palavra das pessoas, o que acaba por criar uma insegurança, nos fechando para os outros e para nós mesmos, todos sempre na defensiva, pouca coisa boa pode vir de um comportamento tão doentio, isso se traduz nas instituições e em tudo no nosso dia a dia. Mudar essa atitude não é ser o otário da vez, mas sim mudar o seu mundo e o mundo do próximo, sim os pequenos e poderosos atos, pelo menos entre nós odinistas e asatruares.


Sobre a Fé, hoje ser viking está na moda, escutar bandas de viking metal, ver o filme do Thor, dizer ser descendente de..., jogar runas, e todas as demais babaquices possíveis, tudo pra pendurar um Mjölnir no pescoço e sair por ai odiando cristãos, judeus, muçulmanos e toda a sorte de crenças e fés possíveis. Se buscamos paz, ordem,harmonia e entramos na Fé já com esse pé esquerdo, não espere uma árvore com bons frutos. Logo, se não for ter comprometimento com o neo/paganismo nórdico, é melhor ser Ateu, ao menos eles são mais sinceros que um babaca desses na nossa Fé.


Creio ter contribuído um pouco para nossa causa e nossa Fé, creio até hoje este ser o texto mais importante neste blog. Se não sabemos o que buscamos e nem onde vamos, não há razão para perder o tempo, já que a vida carnal é um momento tão breve aos olhos da eternidade.


Você veio dos seus ancestrais. E um dia será ancestral de alguém


Você vale tanto quanto a sua palavra. E seus atos são a confirmação disso.


Você será lembrado tanto quanto lembrar dos Deuses. Mas as Nornes nunca vão te esquecer.


Não estamos aqui para brincar, estamos aqui para mudar.


- Heiðinn Hjarta