O que você procura?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sobre o fim das coisas - Ragnarök.

Boa tarde para vocês caros leitores, já faz algum tempo desde a ultima postagem, de fato houveram muitos obstáculos até poder escrever esse post, afinal quem não tem problemas? Mas não vim aqui para falar deles e sim para trazer algum conhecimento e reflexão para vocês, fechando com esse post a proposta inicial do Blog que era abordar a maior quantidade de temas relacionados a mitologia e religiosidade nórdica com uma leitura não acadêmica dos assuntos, mas sempre deixando um compromisso com a veracidade. E como esse compromisso não pode faltar vim falar de um ultimo assunto o Ragnarök, mas como sempre falar o que acontece nele não só é repetitivo e entediante como não é produtivo a ninguém, mas entender sobre o que se trata e o que nele acontece sim, isso faz toda a diferença, então mãos a obra.

Primeiramente vamos entender a palavra, Ragnarök é classicamente traduzido como crepúsculo dos deuses, até onde pude observar parece bem sensato tanto grafia quanto em seu significado, Ragnarök é uma palavra formada da composição de duas palavras Ragna plural de Regin, isto é, Deuses e Rök que possui inúmeros significados tais como desenvolvimento, origem, causa, relação, destino e claro, fim. Quanto ao tema do significado, o mesmo é abordado em inúmeros textos, entretanto onde ele recebe uma incrível riqueza de detalhes é na Voluspá onde a völva conta a Óðinn como as coisas vão terminar, o que acontecerá com algumas divindades, quais vão morrer, quais vão sobreviver, o que acontecerá com os demais seres do mundo e como o mundo vai recomeçar.

Agora vamos as necessárias reflexões, as nossas principais fontes de conhecimento vêm de textos traduzidos por monges cristãos, de uma religião linear, que está acostumada com uma visão final das coisas, isso pode se ver no como se encara o nascimento, a morte, o apocalipse e etc. Logo, temos a nítida impressão que é altamente conveniente inserir um fim para as divindades quando você precisa fazer um povo acreditar em uma nova era e em um novo Deus, até ai nenhuma novidade. Na contramão um fim para todos os deuses parece bem lógico, pois conceitos como Orlog e Orthanc, e o poder das Nornes estando acima dos Deuses nos faz imaginar que um futuro imutável também seria possível, então há algo de real no crepúsculo dos deuses? Alguma coisa, mas tudo? Bem, é ai que eu queria chegar.

Foi falado em textos anteriores o quanto a nossa religião está atrelada a natureza, seja na natureza que nos cerca, seja na natureza do próprio ser humano como o mito de Ask e Embla, logo a Natureza em si não possui um fim, ela é eterna em recomeços, e são esses recomeços que possibilitam novas estações e a continuidade da vida, a própria morte, o próprio inverno nada mais são do que demarcadores dessa passagem. Logo se você acredita nesse fim de tudo, então é triste, afinal você acredita mais no que monges escreveram séculos atrás do que os o que seus próprios deuses deixaram para você.

Se nós sabemos como tudo vai acabar então isso significa uma coisa, eles já bateram as botas e se já bateram as botas então quando você morrer você não vai para nenhum Valhalla, a menos que queira morar sozinho por lá. Se você conseguiu entender a linha do raciocínio, vai entender que por mais legal que seja a idéia de uma batalha épica onde os deuses morrem em combate, ela simplesmente não é funcional e deixa muitos vácuos, exemplos: Se a guerra já aconteceu que deuses deveríamos seguir? E o que aconteceu com os outros, seja os que morreram seja os que não morreram? Quando eu morrer para onde eu irei? Se vou para o Valhalla ou qualquer outro salão então os Deuses sabem o que acontecerá? E se sabem por qual razão não fizeram nada para impedir? Então, acho que isso tem muitas falhas para ser obra divina, por mais falhas que os deuses possam aparentemente ter.

Espero que esse texto tenha ajudado a esclarecer o como o neo/paganismo sofre profundas influências até hoje, de religiões alheias ao seu universo. Dizem que o que é bom dura pouco, se fosse bom de verdade, não durava tão pouco, durava pra sempre. Por fim deixo um conselho que acalma o coração de todos aqueles que estudam a fundo mais essa questão, diz assim no Hávamál:

"Meðalsnotr
skyli manna hverr,
æva til snotr sé;
örlög sín
viti engi fyrir,
þeim er sorgalausastr sefi."

"É melhor para o homem ser meio sábio. Nem demasiado inteligente e engenhoso, nenhum homem pode saber o futuro. Assim permite-se que durmam em paz."

Resumidamente, deixei o Ragnarök por último, já que se trata de um tema muito complexo para uma proposta não acadêmica, mas isso também não significa que não se possa apresentá-lo desta maneira mais simplificada, com esse texto eu encerro a proposta inicial de abortar os temas do cotidiano, da mitologia e da espiritualidade de uma forma informal mas compromissada com a verdade e respeitando o seu intelecto. Espero até o momento ter agradado e mais que isso, ter somado algo a vocês. Deixo também a eterna dica de cuidado com o que se lê por ai, não tome nada por verdade, pois cada vez mais escritores despreparados estão abordando o tema de forma, despreocupada com a informação e com a sua formação no assunto.

A próxima etapa deste blog está sendo estudada, como contos fictícios e outras coisas mais para vosso entretenimento e reflexão, grato pela confiança, até o próximo texto e que Óðinn fique de olho em vocês.

- Heiðinn Hjarta.