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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Recomeçando pelo começo de tudo.


Olá caros leitores, esta é a primeira postagem do ano de 2012 desta era comum, um final de ano atribulado e conturbado somado a problemas de ordem pessoal me inviabilizaram continuar os textos na freqüência que esperava, entretanto este mesmo final de ano me possibilitou reflexões importantes e experiências que vieram a adicionar em minha fé no Odinismo, pois bem, darei continuidade e agora que conhecemos os principais Deuses e Deusas e criaturas sobrenaturais deste universo, vou passar a falar sobre o universo em si de nossa fé, mantendo o objetivo de ser uma direção mas não um texto acadêmico que esgote os assuntos tratados. Sem mais demora vamos falar de como as coisas começaram e outro dia falamos de como elas podem terminar, boa leitura.


As principais fontes sobre a origem do mundo na Cosmogonia Nórdica são os poemas Gylfaginning (O Engano de Gylfi) nas Eddas Prosaicas e a Völuspá (Profecia da Völva) nas Eddas Poéticas. Em ambos os poemas você vai encontrar o que posso resumir de forma clássica:

(...) "No inicio dos tempos,
nada existia,
não existia nem areia, nem mar,
nem ondas frescas.
Não existia nem Jörð,
nem Himin acima,
apenas o Guinnungagap,
e não havia capim em parte alguma" (...) - parte do Gylfaginnin

*Tradução feita por Marcio A. Moreira (Vitki Þórsgoði) em 2008 em pdf disponibilizado.


É de conhecimento comum que o primeiro dos mundos foi Muspellheimr e nele habita Surtr, o Gigante de Fogo, sabemos também que Niflheimr é um mundo de névoas e gelo. O calor do primeiro mundo permitiu que esse causasse delego ao segundo e ambos se encontrassem nesse imenso "vazio primordial central" conhecido por nós como Guinnungagap.


Entenda que o mundo não foi criado "do nada" e que o vazio não era "tão vazio assim", esse vazio primordial não possuía regras ou fronteiras, ele era ilimitado e aleatório, o primeiro mundo a surgir é exatamente o ponto onde a energia desse vazio primordial pode se manifestar com maior intensidade gerando a luz e o calor, gerando Muspellheimr, o polo positivo, o ponto ativo. Em contraparte equilibrando essa manifestação ao norte desse inicial vazio, houve a condensação dessas energias primordiais que não se localizavam em Muspellheimr, e onde não há luz há sombra, onde não há calor há frio, logo essa energia primordial reagiria de maneira diferente dando origem a Niflheimr e suas névoas, o polo negativo, o ponto passivo. Em Niflheim se situa em seu centro a fonte Hvergelmir, desta fonte brotam os fluxos chamados de Élivágar (ondas gélidas) que preenchem Guinnungagap, formando os onze rios Svöl, Gunnthrá, Fjörm, Fimbulthul, Slíd, Hríd, Sylgr, Ylgr, Víd, Leiptr e Gjöll.


O encontro dos dois mundos se dá pelo choque dos extremos, são contrários porém vão de encontro um do outro, com o fogo primordial alcançando este gelo primordial, o resultado é que no vácuo central deste mundo surgiu a possibilidade de vida e de outros mundos, pois nenhum extremo o possibilitaria sem que aquele tipo de vida estivesse adaptado a um ambiente tão hostil.


Ymir surge nesse meio, sendo ele não um mero Jötunn, mas o primeiro de todos eles, carregado desta forma a energia criadora congelada em sua própria forma. Ele deu origem aos Hrímþursar e não é sem propósito que este se diferencie dos demais gigantes, pois nele esta inerte a força criadora que pelo mero suor durante seu sono deu origem a gigantes de gelo que não desejava sequer criar, pelos seus pés e suas axilas.


E aquela vaca de onde veio? A vaca, ou melhor Auðumbla (mais respeito rapaz, rs) é a representação divina da vida na forma de um animal que apesar de não ser tão sagrado entre os nórdicos como entre os indianos, viabilizava ao povo muitas utilidades para a sobrevivência, como a carne, o couro, o leite e os cogumelos, rs. Então claro que poeticamente usaram tal animal, assim como nascer das axilas e dos pés não faz sentido algum se levado ao pé da letra, mas seguindo...


Auðumbla nasce do degelo da matéria primordial inerte e dela brotam rios de leite, que serviram de sustento para Ymir que nada mais faz a não ser dormir e se alimentar, dada a sua natureza passiva e involutiva. Esta vaca se alimentou lambendo blocos de gelo com sal que vão revelar desse contato Buri, que dará vida a Borr que este por sua vez junto com Bestla, filha do gigante de gelo Bölþorn, dará a luz a Oðinn, Vile e Vé, logo creio que já devem perceber que este parentesco de sangue entre Oðinn, Vile e Vé e seus inimigos é pouco citado ou lembrado, conveniente, rs. Sim Bölþorn é o avô materno de Oðinn, mas não isso não significa muita coisa, rs.


A luta inicial entre Oðinn, Vile e Vé contra Ymir se faz necessária, pois é mais uma vez o conflito de natureza de forças criadoras, para viabilizar a evolução da criação, Oðinn, Vile e Vé tinham o necessário conhecimento para a criação do mundo, mas não tinham o poder de fazê-lo por não ter o material primordial necessário e Ymir que era esse material inerte e inútil, precisava ser destruído para viabilizar o desenvolvimento do mundo.


Observe conforme descrito no Gylfaginning, do sangue de Ymir fizeram os mares e lagos, de sua carne fizeram a terra, rochas, colinas e seixos foram feitos com seus dentes e demais ossos quebrados, com seu crânio fizeram o céu, com seu cabelo fizeram as árvores, de suas sobrancelhas fizeram o mundo dos homens Miðgarðr e de seu cérebro fizeram as nuvens furiosas. Fica claro que de forma poética se fala do poder inerte e adormecido, e que permaneceria adormecido, em Ymir caso os três Regin (Deuses) Oðinn, Vile e Vé não o tivessem destruído, é a constante luta pela vida, travada desde a criação do mundo e até o fim de nós nele.


Por fim, chamo atenção a um ultimo detalhe interessante, é também relatado sobre a criação de Ask e Embla, do qual já falei em postagens anteriores, mas nada custa reforçar. Ele eram inicialmente duas árvores, ou seja, seres iguais e não um parte do outro ou ainda um superior ao outro. Eram seres já presentes e parte da natureza, ou seja a raça humana neste ponto de vista é uma só, existem muitos tipos de árvores mas todas ainda são árvores e elas não se discriminam pela cor de seus frutos ou por onde fincam suas raízes, e unida com a natureza que a cerca, não somos nem seus mestres muito menos seus servos, mas parte da natureza e devemos estar em harmonia com a mesma, visão esta que atualmente permanece esquecida por nós, mas que quando despertada revela a imensidão e a importância da natureza que nos cerca e facilita esses entendimentos que exponho a vocês.


Esse é um longo e complexo tema a ser abordado, porém as principais dicas são, não interprete poemas de forma literária ou toda essa cosmogonia não fará sentido, segundo não seja plenamente racional, afinal o homem até hoje tenta entender e descobrir a origem do universo e tudo que a ciência nos deu foram teorias e não certezas sobre isso e por fim, poemas são textos de expressão sentimental e que podem e dever ser interpretados e não livros dogmáticos sem liberdade de interpretação. Espero ter esclarecido um pouco sobre o assunto e espero ter despertado mais dúvidas para que possam pensar por si só.


Mais uma vez grato a Óðinn por poder escrever para vocês, e claro grato a vocês.


- Heiðinn Hjarta.


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