O que você procura?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Bragi - O Eterno Skald

"Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo". (Mário Quintana)


Boa noite aos vagos visitantes, leais leitores, caros comentadores e sinceros seguidores, este Blog hoje cumpre sua primeira etapa que é expor em um linguajar acessível, sem esgotar e sem ser acadêmico, todos os principais Deuses e Deusas da espiritualidade nórdica! Ainda no futuro falaremos dos deuses menos conhecidos, alguns heróis do passado e seres espirituais tidos pelo vulgo como mágicos. Mas este Blog é um espaço sobre arte, sabedoria e informação, eis três línguas que todo Skald deve saber.


Não é injusto um odinista começar sobre Óðinn, sua principal divindade, em seu Blog. Também menos injusto fechar esta etapa com chave de ouro falando daquele que guarda dos nórdicos o maior tesouro e não falo de guerra, não falo da terra, não é sobre mulheres, martelos, morte ou outros mistérios. Falo de uma magia, de palavras de sabedoria, chamada de poesia, que advém do elixir da inspiração e das coisas mais nobres que se guarda no coração. Falo hoje sobre o maior poeta, o primeiro Skald, sobre o deus Bragi.


Inicialmente ele é um integrante do Clã Aesir, um dos filhos de Óðinn e como é descrito por Snorri Sturluson em Gylfaginning: " Um é chamado Bragi: ele é renomado pro sua sabedoria, e mais pela sua fluência na oratória e habilidades com as palavras". E tem como mulher Iðunn. É descrito também que quando uma mulher ou um homem possuíam uma eloquência superior aos demais a sua volta, eram intitulados bragr-man ou bragr-woman. São keenings para ele como aparece no Skáldskaparmál (cujo texto a primeira parte é um diálogo entre Bragi e Aegir), marido de Iðunn, o primeiro a fazer poesia e o deus de barba longa.


Um fato interessante é que é atribuído o talho de uma runa na língua de Bragi, possibilitando a ele tamanha oratória e habilidade com palavras, outro fato interessante é que ele seria a divindade que mais beberia o nosso conhecido hidromel ou Óðrerir, que possibilitava aos deuses e homens se tornarem Sábios ou Skalds, desta combinação mais a eterna juventude de Iðunn, temos então os pontos básicos para a formação deste deus dos Skalds.


Devemos lembrar também que a Poesia tinha uma participação muito importante na cultura e sociedade nórdica, primeiro por ser uma forma de preservação e transmissão do conhecimento, também por ser uma expressão cultural refinada e igualmente por ser uma forma de demonstrar a sabedoria de uma pessoa dentro das coisas que conhecia em sua vida. Para se fazer poesia deve-se estar em paz consigo mesmo, do contrário de pouco será válida a inspiração.


Sua influência sobre os Skalds foi tamanha que seu nome se eternizou nos deles, a exemplo o primeiro Skald que se tem notícia chama-se Bragi Boddasson, O Velho, Skald que serviu ao menos três reis da Suécia (Ragnar Lodbrok, Östen Beli e Björn at Hauge) um texto que relata sua existência é o Ragnarsdrápa. Outras pessoas que tiveram seu nome foram Bragi Högnason e Bragi filho de Hálfdan, O Velho.


Por fim o rito escandinavo conhecido como Symbel ou Sumbl, que tem por sentido festa ou banquete, havia um drinking horn (um chifre de libação e brindes) chamado Bragafull que era considerado o mais sagrado, pois nele se faziam os juramentos solenes que deveriam de ser cumpridos sob pena de maldições recairem sobre a sorte dos promitentes, tamanha era a importância que se dava (e ainda deve ser dada) a uma palavra. Falar é fazer.


Enfim chego ao final desta primeira jornada, e esperoq eu me acompanhe na próxima para ver o que nos aguarda. Finalmente boa quarta :D


- Heiðinn Hjarta

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Iðunn - A guardiã da juventude.


Boa noite ao povo pagão! Leitores deste blog e meros curiosos, esta semana termino de expor as principais divindades da minha religiosidade, os Deuses e Deusas do Panteão Aesir e Vanir e também os mais importantes Jotnar. Com a vinda da primavera, tempo de renovação e de comemorar a vitória da vida sobre o Inverno é o momento de refletir sobre a divindade mais ligada a esta data, Iðunn a guardiã das maças que garantem a eterna juventude aos Deuses de Ásgarðr, então vamos aos seus detalhes.


A princípio sobre seu nome, Iðunn para aos olhos dos estudiosos estar ligada sempre a juventude. John Lindow descreve o significado de seu nome como "sempre jovem", Andy Orchard descreve o significado de sempre jovem e segundo a interpretação de Rudolf Simek é "aquela que rejuvenesce". O estudioso Jacob Grimm a liga com as Idesas ou as Disir pelo radical do nome, o que fará algum sentido conforme se mostra a seguir.


Sobre o parentesco de Iðunn e a que clã poderia pertencer nada é declarado nas eddas como participante evidente de um dos Clãs mas ela é casada com o deus Bragi um Aesir, filho de Óðinn o que poderia indicá-la como uma Aesir, entretanto seus traços ligados a juventude, renovação e fertilidade a tornam forte candidata ao Clã Vanir, um fato curioso é que um dos presentes que o Elfo Skrímir, servo de Freyr, leva até Gerðr para convencê-la a se casar com Freyr são as maçãs de Iðunn. Entretanto ainda há uma terceira visão que a encara como uma elfa ou descendente dos elfos, esse fato se dá no poema Hrafnagaldr Óðins nas Stanza 6 é dito que Iðunn é a mais velha das crianças de Ivaldi. Para quem não sabe, quando Loki desafiou os Anões Brokkr e Eitri a criarem um cabelo mais belo que o de Sif para ela, resultando em inúmeros artefatos criados para os Aesir entre eles o próprio martelo de Thor, eles se ofenderam em serem comparados com Ivaldi.


Iðunn em hipótese alguma nos lembra um anão (rs), logo é bem provável que Ivaldi seja um Alfr (elfo da luz) o tipo de criatura com a qual um anão (que é um "elfo da escuridão") não gostaria de ser comparado (dai a falta de amores entre anões e elfos nos contos fantásticos, pois os primeiros eram associados a luz e a beleza e os segundos a escuridão e a falta desta beleza), mas ainda levanto um apontamento final do parentesco dela. Indiferente da sua origem ela é de fato considerada uma Asynjur (Deusa) no Skáldskaparmál, o que pode nos levar a acreditar que ainda que seu pai fosse um elfo, sua mãe provavelmente não o seria. Pelos seus traços que deixa pela mitologia e suas associações tenho ela por uma Vanir, mas isso é opinião pessoal e que não muda muito as coisas, afinal precisamos de ambos os Clãs em nossa espiritualidade, assim como eles precisam de ambos os clãs para manter a ordem e a prosperidade.


Outro fato curioso é que o Skald Thorbiorn Brúnarson usa como keening em seu poema as maças de Hel, como o alimento efêmero do qual os mortos se alimentam em Hel, sendo então maçã um sentido não literário e sim poético que representa este alimento sagrado aos não "encarnados". Existem dois poemas dos quais ela tem participação altamente relevante são eles o Skáldskaparmál onde Bragi conta a Aegir como se deu o rapto de sua esposa pelo pai de Skaði e o Lokassenna onde Loki e ela trocam palavras pelas acusações que Lokif faz a ela e aos demais deuses no salão do Aegir.


Iðunn não é uma divindade cujo qual se tenha registro de cultos ou de datas que sejam dedicadas a ela, mas de fato ela tem um papel importante em manter a juventude dos Deuses, agindo de certa forma como uma guardiã da sorte desta juventude, como uma Disír. Seus ensinamentos estão mais na simbologia de seus mitos do que em cultos ligados a ela, o que na prática não a torna uma figura menos importante.


Espero que algo eu tenha acrescentado e que o conhecimento seja renovado e repassado, bom obrigado até amanhã.


- Heiðinn Hjarta.





sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A vitória renovada.


O vento gélido parou de soprar
O uivo do lobo não vai se prolongar
Os Trolls na escuridão foram se esconder
É o momento da Primavera reaparecer


A arte e a vida desabrocham na natureza
A luz do sol enaltece toda essa beleza
Para trás deve ficar qualquer dificuldade
É chegada uma estação de muita felicidade


A terra se alegra, suas flores dão as cores
Todos se deliciam dos frutos e seus sabores
Iðunn e suas maçãs retornam em segurança
A juventude dos Asa nos renovam a esperança


Busque o ar puro para se inspirar
Sente-se junto ao fogo para se alegrar
Sinta o frescor da água te aliviar
Deite-se na grama macia até o Sol raiar


Gerð se rende a busca do Senhor
Ele finalmente se alegra em seu amor
É o fim da angústia de Freyja no coração
Pois Heindallr retorna com seu colar em mãos


É o momento desta estação aproveitar
De novas sementes plantar e novos laços forjar
De reunir forças com energias renovadas
E seguir a vida com a alma purificada


Que os Aesir te tragam as ferramentas adequadas
Que os Vanir te deixem a terra preparada
Que os Jötnar fiquem em suas moradas
Que as Nornes te desejem uma boa jornada


- Heiðinn Hjarta

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Njörðr e Nerthus - Sobre a terra e sob o mar.


Boa noite caros leitores, agradeço o acompanhamento do blog e os elogios que estou recebendo, hoje estou quase encerrando a parte que trata sobre os deuses principais (os demais não são menso importantes, apenas menos conhecidos e cultuados), haverá mais um fim de semana e após ele começarei a tratar de expor as runas em um estudo aprofundado, para após estudá-las mostrar sobre a cosmologia e os demais seres que compõem o universo da espiritualidade nórdica.


Hoje vou abordar sobre duas divindades ambas, ao meu ver, do clã Vanir, mas historicamente comprovado só uma delas. São estas divindades Njörðr e Nerthus, vou desmistificar algumas confusões e explicar não só mitologicamente mas o sentido de cada divindade e mostrar as evidentes diferenças entre os Aesir e os Vanir por meio destas divindades.


Njörðr é uma divindade Vanir, pai de Freyr e Freyja, com sua irmã cujo o nome nos é desconhecido (teoricamente), em uma das Eddas se casa com Skaði, quando esta busca o mais belo homem pelos pés e o casamento da Jötunn com o Vanir não foi bom para nenhum dos dois, a distância dela das montanhas e a distância dele do mar não torna possível prolongar esta união, resultando numa separação sem maior rancores de ambos. No poema Sólarljóð é dito que Njörðr possui nove filhas sendo a mais velha Ráðveig e a mais nova Kreppvör (79 Stanza), ainda há um local dedicado para ele chamado Nóatún. Ele como toda divindade Vanir carrega o aspecto da fertilidade ao ser lembrado como a divindade a qual os pescadores recorrem para terem um mar calmo e uma pescaria abundante, ele também é considerado sábio, como toda divindade Vanir é considerada e está ligado a saúde. Njörðr foi cultuado no século 18 e no século 19 ainda pelos pescadores para manter as pescas em abundância.


Sobre a deusa Nerthus esta é associada a fertilidade, e segundo Tácito no texto Germânia era venerada entre as tribos germanas dos Reudigni, Aviones, Anglii, Varini, Eudoses, Suarines e os Nuitones todos nomes estes dados por Tácito. Esse traço comum de culto demonstra o poder e a influência que Nerthus alcançava em diferentes tribos vizinhas, o que nos leva a entender que ela possui um papel importante entre as divindades dos Germanos, seu culto sobreviveu entre os Anglos (Anglii) num ritual chamado Aecerbot que era utilizado para cura e melhoria da terra a ser cultivada. Jacob Grimm identificou Nerthus como Erda, Erce, Fru Gaue, Fjörgyn, Frau Holda e Hluodana, já Hilda Ellis Davidson têm feito paralelos entre Nerthus e Njörðr.


Sobre ambos serem a mesma divindade. Acredito ser claro e óbvio que Nerthus e Njörðr não são a mesma divindade, o fato fica claro e óbvio em dois casos, primeiro Nerthus esta associada a fertilidade da Terra diferente de Njörðr que está associado a fertilidade do mar, segundo se Njörðr fosse uma mulher, logo Skaði não teria casado com ele, a menos que o homossexualismo/lesbianismo fosse uma prática entre os Gigantes e eu acredito, não sei por qual razão rs, que não é o caso. Por fim, Njörðr tinha uma irmã e era um segredo que ele e ela eram um casal que tiveram filhos sendo esses Freyr e Freyja, logo a menos que Njörðr representasse o inicio da reprodução assexuada entre os Vanir seria indispensável a existência de um polo feminino para a concepção de Freyr e Freyja.


Ainda para matar qualquer suspeita, existe uma integrante do clã Jötunn chamada Jörð, e sim um mero "N" faz toda a diferença, a mãe de Thor não é uma Vanir e ela representa a Terra, então qual a diferença entre Nerthus e Jörð? Simples a primeira representa a terra em seu poder de fertilidade, o verde da terra e sua capacidade produtora de frutos e curativa também, já a segunda representa o elemento terra, a sua força e sua resistência, algo mais rústico e primitivo, arquétipos de diferentes finalidades. Então a quem gosta dos Vanir eu sugiro claramente que o panteão já tenha por certo essas quatro divindades, Njörð, Nerthus, Freyr e Freyja, futuramente farei estudos aprofundados e vou expor demais teorias e lógicas, espero que esse texto tenha sido produtivo e proveitoso para vocês, uma boa noite e até Sexta!


- Heiðinn Hjarta



terça-feira, 20 de setembro de 2011

As nossas "muitas" tribos.


Boa noite caro leitor, começo de semana bem atribulado mas finalmente um pouco de paz para escrever, rs. Abordarei hoje sobre os mais conhecidos "átrus" que tem se ramificado da grande árvore do neo/paganismo nórdico. O objetivo é demonstrar os vários caminhos que nossa fé tem percorrido e tem concretizado ao longo dos tempos, creio que alguns grupos aqui são bem desconhecidos da maioria, uma ocorrência normal, levando em conta a liberdade dos kindreds e a falta de uma visão unificada dentro do neo/paganismo. Essa falta de unidade nos garante uma liberdade mas nos priva de uma identidade mais coesa resultando muitas vezes numa fragmentação por diferentes interpretações de um mesmo assunto, algo que reflete bem o aspecto tribal dos antigos povos, onde um mesmo deus era adorado com nomes diferentes por tribos diferentes ou de forma diferente, mas mantendo um nicho comum entre ambas. Enfim escolhas que nós fazemos e com as quais nós arcaremos.


Forn Siðr - O "Velho Costume" é um termo usado por grupos escandinavos para se referirem a cultura e religiosidade nórdica pré-cristãs, visto não só como a sua atual espiritualidade mas uma forma de encarar a vida também. Forn Siðr também é o nome mais divulgado para representar a sociedade pagã dinamarquesa desde que conseguiram oficializar o paganismo nórdico como uma religião em sua nação em 2003 podendo conduzir cerimonias de casamento, funerais e outros ritos. Dentro dele evoluíram o Asátru/Vanátrú que veio conquistando espaço nas nações europeias oficializando a religião junto aos Estados e consequentemente as suas respectivas sociedades, também é a ramificação mais conhecida do neo/paganismo nórdico e a criadora/codificadora das 9 nobres virtudes.


Um problema que evoluiu desta crença foi o surgimento de grupos que decidiram por se focar exclusivamente em um panteão específico, alterando assim todo o conhecimento e interpretação para apenas aquela forma de pensar sem seus necessários complementos. Logo surgiu o culto estrito só aos Aesir ou só aos Vanir, ou ainda só aos Jötnar, me pergunto se a guerra Aesir-Vanir e os casamentos e relacionamentos com alguns Jötnar não ensinaram nada a essas pessoas.


Um fenômeno recente também dentro do Forn Siðr é o Rökkatrú, uma fé neo/pagã baseada no culto aos Jötnar, as forças primordiais e caóticas, seu panteão é composto por gigantes do fogo, do gelo, da água, dos ventos e dos mares, também possuem suas 13 regras, (como se 9 já não fossem o suficiente, rs) e possuem como seu panteão principal Hel, Fenrir, Jörmungandr, Níðhöggr, Angrboða e Loki, acredito que esta ultima ramificação do Forn Siðr seja resultado de dois problemas que ocorrem atualmente.


Primeiro a falta de comprometimento com uma busca pelas tradições e raízes ao se realizar treinamentos aos Goðar, como uma classe sacerdotal separada (coisa que só foi existir na Islândia até lá qualquer chefe de família podia assumir esta função fosse homem ou mulher). Segundo o espaço aberto ao Vanatrú, focando numa veneração só aos deuses Vanir, o que é um erro brutal, também foi porta de entrada para muitos wiccanos dentro da fé. Por fim, o efeito "lokeano", talvez uma resposta ao Odinismo, onde neopagãos dedicam culto exclusivo a Loki. Assim como resultado temos esses "filhos não reconhecidos" do Forn Siðre a reação dos integrantes da Asatru-Vanatru em relação ao Rökkatru vão desde ignorar a existência do grupo até o repúdio pela escolha feita por essas pessoas.


Particularmente consigo facilmente observar um motivo para haver três clãs que juntos compuseram o grupo de divindades nórdicas cujas quais cultuamos, a guerra entre os Aesir e os Vanir foi necessária pois que com o contato de ambos os clãs tanto a forma de pensar como de viver encontraram um equilíbrio nos seus aparentes opostos. De um lado temos os alegres e prósperos Vanir despreparados para qualquer ambiente adverso que viesse a destruir essa prosperidade, fertilidade e felicidade, do outro lado temos os Aesir conquistadores, sobreviventes e impositores de uma estrutura social que só pode proporcionar prosperidade em meio a paz, paz essa alcançada com os Vanir pela troca de divindades e paz essa que permitiu a ordem Aesir proteger e perpetuar a prosperidade Vanir. Até mesmo os Jötnar tem um papel importantíssimo ao formar o caráter adverso que testa continuamente os clãs e deuses em sua capacidade de sobrevivência e evolução, bem como ensina ao homem o poder devastador, mas também construtor da natureza, fazendo de deuses e deusas heróis e exemplos para seu povo.


Escolher apenas um caminho é esquecer e ignorar o que esses três caminhos proporcionaram de sabedoria aos ancestrais e que podem vir a nos proporcionar, mas a liberdade está para ser usada com sabedoria e cada qual vai traçar seu caminho e colher os frutos do que semeou para si e para os demais.


Até quarta-feita.


- Heiðinn Hjarta

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Baldr e Höðr - O sacrifício de um Deus.


Boa noite caro leito, seguindo o tema de sacrifício e buscando entender um pouco mais sobre a visão do neo/paganismo nórdico hoje chamarei atenção para dois deuses, amigos e inimigos, irmãos e desconhecidos, de uma mesma mãe, mas descendentes de reis diferentes, seus nomes? Baldr e Höðr, anglicanizado Balder/Baldur e Hod/Hoder/Hodur ou ainda nos nomes de Balderus e Hötherus.


Sobre a primeira figura, trata-se do brilhante, belo, amado e carismático Baldr, associado a luz, filho de Frigg e Óðinn, que desde cedo é protegido por sua mãe quando esta faz todas as coisas que pudessem fazer mal a Baldr jurarem que nenhum mal o fariam, exceto por um pequeno e inocente visco. Baldr é casado com Nanna, e desta união nasceu o deus da justiça Forseti, Baldr reside em Breidablik (Brilho amplo).


Quanto a Höðr o mesmo é na mitologia irmão de Baldr e é um deus cego, não era tido por frágil mas também não o tinham por combatente., muitos são os keenings para ele tais como, Deus Cego, Assassino de Baldr, Arremessador do Visco, Filho de Óðinn, Companheiro de Hel e Inimigo de Váli (Váli é o filho de Óðinn que vingou a morte de Baldr matando Höðr).


No Gylfaginning é narrado que após a morte de Höðr o mesmo vai para Hel, bem como Baldr e Nanna, logo fica a primeira reflexão, se Hel é um lugar tão abominável assim por qual razão três Aesir (Höðr, Baldr e Nanna - que morre de tristeza pelo falecimento do marido) vítimas do destino estariam lá? Segundo, Frigga conhecida por tudo saber não pode prever tal desgraça, ou se quer evitar apenas minimizar, o próprio Óðinn já sabia por meio conjuração por necromancia da Völva que seu filho teria um fim terrível e o próprio Baldr avisou de seus sonhos para seu pai. Era algo inevitável, mas por qual motivo ele foi fadado a morte? Por um sacrifício e ai segue a explicação.


Höðr nunca teve algo contra seu irmão, o fato de ser cego e não enxergar a luz que seu irmão irradiava não o tornava desgostoso dele. Diferente do que é narrado de Loki que tinha inveja, natural de uma divindade que gosta de ser o centro das atenções, mesmo quando tenta fazer tudo passar despercebido. A exposição a qual Baldr se coloca deixa claro um único aprendizado, há um equilíbrio e há um destino, e nada pode suplantar estas leis. Baldr na sua figura de invencibilidade era um desequilíbrio óbvio nas forças da natureza, ao passo de que nenhum gigante seria capaz de derrota-lo e nem o fogo mais ardente de Surtr poderia se quer bronzear a pele de Baldr, ao mesmo tempo tomá-lo por intocável seria dar aos deuses a certeza da vitória, quando no fim o que restou foi um equilíbrio.


Seu irmão cego, nada mais foi que um instrumento das Nornes cumprindo o destino dos deuses, então neste prisma o assassinato de um ato de traição se revela nada mais do que um sacrifício pelo equilíbrio da natureza e dos rumos que o destino deveria percorrer. E como o próprio Óðinn deixa escrito, é melhor não pedir do que pedir demais, mas mesmo assim Frigg pediu a todos os seres pelo bem de um único ser. Quem dirá que a mãe está errada em proteger o próprio filho? Quem dirá que aquela que tudo sabe e nada fala não agiu em plena ignorância ao desconsiderar o visco? São essas imperfeições de nossas divindades que nos aproximam deles e eles de nós, e falando nisso...


Um antigo historiador dinamarquês, Saxo Grammaticus (Saxo, o Literário) em sua obra Gesta Danorum (O feitos dos Dinamarquêses) contendo seis livros escritos em Latin falando da história e dos heróis da Dinamarca, Estônia e Latvia, fala de Hotherus como um herói humano dinamarquês que deseja ter a mão de Nanna, filha do rei Gevarus. O rei daria a mão de sua filha de bom grado se ela já não fosse desejada por Balderus um semi-deus invencível, mas que conhece uma arma que poderia derrotá-lo guardada por Miming, um sátiro da floresta (o que os romanos tinham por elfo), nesta interessantíssima narrativa os deuses são bem mais humanos, figuras que batalham entre si e se associam a reis e revelam uma diferente intepretação para o tradicional conto mitológico.

Indiferente da natureza divina ou mortal destes irmãos ou a quem se atribui a correta moralidade, o fato é que não eram divindades largamente cultuadas talvez pelo seu aspecto mais mitológico e familiar. Cabe a nós entender o conto da mitologia e trazer para nossa vida a lição de que lutar contra um destino fiado e forçar o desequilíbrio para evitá-lo, cedo ou tarde trará sobre nós uma dor maior do que se o caminho naturalmente tivesse sido percorrido, a natureza é o melhor professor que temos.


Baldur em todo seu brilho foi mais cego que seu próprio irmão.

Até sexta-feira.


- Heiðinn Hjarta

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um sacrifício de bom grado.


Boa noite nobres visitantes, curiosos, seguidores e leitores, segunda-feira difícil mas enfim em casa. O tema de hoje aborda sobre como se dão os sacrifícios no neo/paganismo nórdico e também explica como o sacrifício é encarado, então ao trabalho.


O sacrifício como o conhecemos é normalmente observado como algo feito a contragosto, um esforço penoso, abrir mão de uma situação para poder se beneficiar, ou não se prejudicar, em outras palavras é um ato de altruísmo, abnegação e renuncia em favor de outrem. Neste ponto de vista entendemos que o sacrifício é feito para alguém e nossos sacrifícios são feitos para nossas divindades e para nossos ancestrais, entretanto não de forma penosa, afinal se abrimos mão de algo em respeito a eles ou se oferecemos algo para eles, em hipótese alguma deve ser feito de má vontade, deve ser feito de coração aberto como um presente que se dá a alguém querido, ou se for algo difícil de cumprir, que seja assim feito pelo grau de respeito que se dá ao sacrifício e a quem se beneficia dele, mas o interesse próprio é sempre secundário frente a quem se presta o sacrifício.


Superada essa observação inicial vamos entender como se tratava e como se trava o sacrifício em nossa senda. Nos tempos antigos as tribos germânicas faziam vários sacrifícios em forma ritualística para alcançar inúmeros objetivos, uma boa colheita, uma vitória em campo de batalha, afastar doenças, almas penadas, agradar os ancestrais e os deuses e apaziguar a ira deles quando pelas condições que se apresentavam, pareciam recair inúmeros males sobre o povo, o sacrifício também poderia ocorrem para fins mágicos, geralmente envolvendo maldições contra pessoas.


Utilizavam-se em sacrifícios inúmeros materiais, tais como minerais, vegetais, animais (em particular porcos e cavalos), objetos manufaturados aos que se davam importância, pessoas (geralmente enforcadas, voluntárias ou não e importantes ou não, em alguns casos o próprio Rei era sacrificado), sangue (seu ou dos outros) e atos em forma de sacrifício. A forma poderia ser pacífica, ou bem intensa e violenta, ocorriam desde da morte de um guerreiro nobre junto das suas posses até um grande sacrifício sazonal envolvendo todo o Clã em honra aos deuses, mas sempre feito de forma sincera.


Hoje temos no neopaganismo nórdico mais comida e festejo e menos sangue (a menos que a carne esteja mal passada rs). Chamamos de Blót hoje, o sacrifício ritualístico realizado em um local sagrado, previamente preparado para o rito ou naturalmente sagrado, podendo ser feito de forma individual ou coletivamente, sendo parte de uma celebração mais complexa ou apenas em sua fase exclusiva. Assim como as tribos nórdicas e germanas tinham cada uma sua forma de realizar esses sacrifícios, não será surpresa que kindreds diferentes sigam ordem diferentes para realizar o Blót, mas geralmente eles são acompanhados do banquete ritualístico chamado Sumbl, outra característica marcante é que os Blóts na metade fria do ano (Outono e Inverno) costumavam se dar em ambiente fechado em familiar, já os da metade quente do ano (Priamvera e Verão) se davam em meio a natureza.


Sobre os Blots mais conhecidos, em forma resumida e simplificada, temos os seguintes:


Winternaettr - Noites de Inverno, ligado a necromancia, criaturas sobrenaturais e o começo da Caçada Selvagem;


Alfablót - realizado para os Alfár (elfos) e de caráter extremamente familiar, dificilmente havendo convidados de fora da família;

Disablót - realizado na primavera em honra as Disír, esperando se propiciar melhor sorte ao clã, aos integrantes do clã e a melhora da colheita.;


Sömármál - realizado durante o verão em honra a estação e a vitória, marcado por alegria, danças próximas a fogueira e pela comemoração da aproximação do verão;


Haustablót - Sacrifício de outono onde se dará a preparação para a estação mais rigorosa que é o inverno, trata-se de um momento de reflexão e de armazenar forças para os tempos difíceis que se aproximam;


Ainda há blóts ligados a deuses específicos sendo os mais famosos os ligados a Thor e a Freyr, mas mais uma vez vale lembrar que isso não é regra cada clã fará seus blóts da forma que for adequado a suas crenças.


Trata-se de um tema complexo que envolve um melhor aprofundamento, mas pode-se ter como uma noção inicial e buscar se aprofundar no significado de cada blót e nos locais onde devem ser praticados.


Segue o link do site o Troth onde é abordado sobre o tema, texto de autoria de Vagner Cruz.


Bom começo de semana e até quarta-feira!

- Heiðinn Hjarta

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A lança que não é balança.


Boa noite amigos leitores, ja é quase sexta-feira e eu me esquecendo de postar no blog, culpado seja o feriado! E tudo que ele trouxe de bom, rs. Bom sem mais enrolação, começaremos a abordar divindades menos conhecidas e temas mais aprofundados, logo aqueles que desejam um conhecimento mais aprofundado poderão observá-lo nos futuros temas do blog, mas manterei a linguagem acessível aos menos informados, assim todos tem oportunidade de aprender e desvendar mais coisas.


A divindade de hoje a ser apresentada é Forseti, deus ligado a justiça e reconciliação, sim já devem estar se perguntando sobre Tyr, isso também será abordado, mas vamos passo a passo. Então esta figura pouco lembrada ou cultuada é responsável por um dos aspectos mais importantes da vida social de um povo, ele é responsável pela justiça, sempre buscando reconciliar os descontentes ao invés de sentenciar punindo arbitrariamente. Trata-se de um Aesir, filho de Baldr e Nanna, seu nome significa no nórdico antigo, "aquele que preside" pois era invocado a presidir a corte onde eram feitos os julgamentos, as negociações, a arbitragem, a reconciliação e a paz, enfim um regente das leis, tanto para os deuses quanto para os homens.


Sua descrição o coloca como um jovem loiro, amistoso e luminoso, como seu pai, e vivia em Glitnir, um grande salão com pilares de ouro e teto de prata onde resolvia os problemas sempre buscando a reconciliação ao invés de uma punição que desagradasse um lado e agradasse o outro. Entre os Frísios havia uma divindade chamada Fosite com mesmos parâmetros de influência na sua sociedade, dada a proximidade com os povos germanos e com a região da Dinamarca podemos estar falando da mesma divindade.


Geralmente quando falamos em justiça lembramos de Tyr, por ser um exemplo de comportamento e por sua coragem e por sempre fazer o que julga correto, mas Tyr não é um juiz, mas sim um justiceiro, traz vitória mas não significa que trará harmonia, já Forseti é a divindade que busca essa mediação, devemos lembrar o quão importante era para a sociedade nórdica a questão da harmonia social, resolver tudo em pancadaria não daria paz a ninguém, logo prevalecia o bom senso e essa divindade era invocada por sua sabedoria.


Existiam muitas formas de se fazer justiça na sociedade nórdica, a mais famosa era o Holmgang, que por meio de duelos sagrados onde a vitória era dada aquele que então passava a ser considerado a pessoa com razão na questão, dai a ligação de Tyr com a justiça e a vitória, a exemplo desta forma de duelo em busca de justiça temos Egill Skallagrímsson contra Berg-Önundr, eram casos onde não cabia conciliação.


Da mesma forma podia se fazer justiça durante uma þing (assembléia) diante de um/uma Lawspeaker/Lögmaðr/Sögmaðr, trata-se de uma pessoa sábia e conhecedora das leis que detinha uma voz de autoridade nessas assembleias, a exemplo temos Þorgnýr Lögmaðr que reconciliou dois reis após uma guerra e ainda casou seus filhos.


Logo numa sociedade em que juramentos, condutas honrosas, devoção a ancestralidade, preocupação com o que se deixa para os descendentes e a busca por harmonia e paz para propiciar prosperidade, a justiça feita a maneira correta tem um papel fundamental, incluindo uma divindade que busque essa mediação, tarefa que cabe ao sábio Forseti.


Bom, era o que tinha para ser falado, caso encerrado.


- Heiðinn Hjarta

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Assembleias e altares.


"We don't need your hypocrisy
Execute real democracy
Post-industral society
The unthinking majority"

The Unthinking Majority - Serj Tankjan


Boa noite atento leitor, esta Segunda-feira será de um tema que adentra a vida de todas as pessoas, não importa sua cor, sua fé, sua origem e muito menos seu destino, este problema está em todos os cantos do mundo, falo de algo que por muitos de nós nem existiria, falo de política.


Desde que o homem esqueceu o peso de uma clava em sua cabeça e passou a dialogar a política tem feito parte de nossas vidas, reflexo do contrato social que nós vivemos de liberdade limitada para um bem coletivo. Pois que essa liberdade representa interesses e esses interesses representam a maioria e a politica está ai para representar a maioria e seus interesses... MENTIRA!


Um belo dia, num passado distante, pessoas idealistas, loucos sonhadores, heróis de minorias ou ainda de maiorias oprimidas, representaram a opinião de seu povo, mas o ser humano aprendeu muito bem a iludir o próximo e alcançar um grande numero e com esta grande força fazer um grande estrago, ambas as guerras mundiais estão ai para provar o argumento e a infinidade da imbecilidade humana. Os vermelhos falam de proteger o povo em uma igualdade, quando suas cúpulas não se igualam a ninguém pois só elas detêm liberdade de escolha, os azuis preferem dar espaço a exploração do homem pelo homem, fazendo no processo de liberdade de aquisição escravidão com o próprio irmão, os superiores ainda teimam em se considerarem tão bons que tudo que fazem precisa em maior ou menor escala dos inferiores, seja por produção, seja por consumo.


Mas o pesadelo até seria tolerável, se essas malditas assembleias de farsantes e hipócritas com tentáculos de um Kraken pútrido e ambicioso não alcançassem a nossa fé. A fé pressupõem uma busca pelo divino, pelo sagrado, pelo verdadeiro. A política é um grande faz de conta onde eu digo que te represento e você diz que acredita e que em segue e então estamos todos felizes.


Misturar a perfeição do sagrado com a imperfeição da sociedade humana é dar um tiro no próprio pé, eis que vivemos esta realidade, a exemplo bancadas que defendem direitos evangélicos batendo de frente contra uma parcela da sociedade que defende os direitos homossexuais, enquanto isso temas como segurança, saúde e educação, realmente vitais para o desenvolvimento de um lugar e um futuro melhor para nós passa desapercebido ou em segundo plano.


Enquanto a sociedade expressa claramente seu apoio aos índios que serão prejudicados pela construção da usina Belo Monte (de M3rD@) , assim como o descontentamento da alteração do código florestal os nossos representantes se calam e recebem o seu no final do mês. Um palhaço, todo respeito a profissão, representa um estado no qual ele nem nasceu e mal conhece seus problemas. Milhões são injetados em construções para um evento esportivo que simplesmente só demonstra irregularidades fiscais, trabalhistas e falta de planejamento futuro. Políticos condenados pela opinião pública por sua conduta imoral no passado voltam ao cenário nacional ovacionados por fanáticos insanos que preferem ser um partido ao invés de uma nação, pois "só eles são trabalhadores". Isso tudo falando só do Brasil, não me estenderei ao resto do mundo que estão tão lamentável quanto...


Pois bem, algo de muito engraçado ocorreu este fim de semana, após um show de uma banda na cidade de São Paulo irrompe um tumulto entre facções de pontos de vista diferentes e resulta em feridos e na morte de uma pessoa. Pensei que os políticos estivessem ai para representá-los, é mas parece que eles se matam por quem nem presta atenção neles, isso se eles estão se matando por isso e não por simples vontade de mostrar quão irracionais pode ser...


Nunca na história misturar a fé com a política trouxe bons frutos, não vamos repetir o erro de uma sociedade que viveu uma Idade das Trevas divida entre Cruzes e Coroas, não vamos permitir que as "inúmeras facções do neo/paganismo nórdico" destruam a nossa unidade nos Deuses. Mesmo os Aesir e Vanir guerrearam e encontraram paz por meio de uma união, pois nenhuma visão pode ser absoluta e isso é algo natural é essa mistura que ria a harmonia e o equilíbrio. Meus pêsames aos "Nazitru", "Vanatru" ao povo do "Rökkatru" e as tantas demais divisões que vêem surgindo no meio de nossa fé, já não bastasse a opressão de uma sociedade monoteísta e os simpáticos "vizinhos" verdes (ou por vezes rosa) e místicos, temos que aturar esse povo também em nosso meio.


A pergunta é simples, se você busca através dos deuses a liberdade para ter paz na sua vida, por qual razão você vai se submeter aos caprichos de uma opinião humana?


Para mim não faz sentido algum, mas talvez faça para você. Se assim o for seja um submisso feliz, aproveite e vá louvar o tirano todo poderoso, ele deve ser um deus melhor para você.


Ao sábio leitor, sabe que essa palavra não se dirige a você, mas a maioria não pensante que nos cerca.

No dia 07 de setembro de 1822 é comemorada a Independência do Brasil, nessa hora eu me pergunto que independência deve ser comemorada.


Uma boa semana e até o feriado.


- Heiðinn Hjarta.