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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Baldr e Höðr - O sacrifício de um Deus.


Boa noite caro leito, seguindo o tema de sacrifício e buscando entender um pouco mais sobre a visão do neo/paganismo nórdico hoje chamarei atenção para dois deuses, amigos e inimigos, irmãos e desconhecidos, de uma mesma mãe, mas descendentes de reis diferentes, seus nomes? Baldr e Höðr, anglicanizado Balder/Baldur e Hod/Hoder/Hodur ou ainda nos nomes de Balderus e Hötherus.


Sobre a primeira figura, trata-se do brilhante, belo, amado e carismático Baldr, associado a luz, filho de Frigg e Óðinn, que desde cedo é protegido por sua mãe quando esta faz todas as coisas que pudessem fazer mal a Baldr jurarem que nenhum mal o fariam, exceto por um pequeno e inocente visco. Baldr é casado com Nanna, e desta união nasceu o deus da justiça Forseti, Baldr reside em Breidablik (Brilho amplo).


Quanto a Höðr o mesmo é na mitologia irmão de Baldr e é um deus cego, não era tido por frágil mas também não o tinham por combatente., muitos são os keenings para ele tais como, Deus Cego, Assassino de Baldr, Arremessador do Visco, Filho de Óðinn, Companheiro de Hel e Inimigo de Váli (Váli é o filho de Óðinn que vingou a morte de Baldr matando Höðr).


No Gylfaginning é narrado que após a morte de Höðr o mesmo vai para Hel, bem como Baldr e Nanna, logo fica a primeira reflexão, se Hel é um lugar tão abominável assim por qual razão três Aesir (Höðr, Baldr e Nanna - que morre de tristeza pelo falecimento do marido) vítimas do destino estariam lá? Segundo, Frigga conhecida por tudo saber não pode prever tal desgraça, ou se quer evitar apenas minimizar, o próprio Óðinn já sabia por meio conjuração por necromancia da Völva que seu filho teria um fim terrível e o próprio Baldr avisou de seus sonhos para seu pai. Era algo inevitável, mas por qual motivo ele foi fadado a morte? Por um sacrifício e ai segue a explicação.


Höðr nunca teve algo contra seu irmão, o fato de ser cego e não enxergar a luz que seu irmão irradiava não o tornava desgostoso dele. Diferente do que é narrado de Loki que tinha inveja, natural de uma divindade que gosta de ser o centro das atenções, mesmo quando tenta fazer tudo passar despercebido. A exposição a qual Baldr se coloca deixa claro um único aprendizado, há um equilíbrio e há um destino, e nada pode suplantar estas leis. Baldr na sua figura de invencibilidade era um desequilíbrio óbvio nas forças da natureza, ao passo de que nenhum gigante seria capaz de derrota-lo e nem o fogo mais ardente de Surtr poderia se quer bronzear a pele de Baldr, ao mesmo tempo tomá-lo por intocável seria dar aos deuses a certeza da vitória, quando no fim o que restou foi um equilíbrio.


Seu irmão cego, nada mais foi que um instrumento das Nornes cumprindo o destino dos deuses, então neste prisma o assassinato de um ato de traição se revela nada mais do que um sacrifício pelo equilíbrio da natureza e dos rumos que o destino deveria percorrer. E como o próprio Óðinn deixa escrito, é melhor não pedir do que pedir demais, mas mesmo assim Frigg pediu a todos os seres pelo bem de um único ser. Quem dirá que a mãe está errada em proteger o próprio filho? Quem dirá que aquela que tudo sabe e nada fala não agiu em plena ignorância ao desconsiderar o visco? São essas imperfeições de nossas divindades que nos aproximam deles e eles de nós, e falando nisso...


Um antigo historiador dinamarquês, Saxo Grammaticus (Saxo, o Literário) em sua obra Gesta Danorum (O feitos dos Dinamarquêses) contendo seis livros escritos em Latin falando da história e dos heróis da Dinamarca, Estônia e Latvia, fala de Hotherus como um herói humano dinamarquês que deseja ter a mão de Nanna, filha do rei Gevarus. O rei daria a mão de sua filha de bom grado se ela já não fosse desejada por Balderus um semi-deus invencível, mas que conhece uma arma que poderia derrotá-lo guardada por Miming, um sátiro da floresta (o que os romanos tinham por elfo), nesta interessantíssima narrativa os deuses são bem mais humanos, figuras que batalham entre si e se associam a reis e revelam uma diferente intepretação para o tradicional conto mitológico.

Indiferente da natureza divina ou mortal destes irmãos ou a quem se atribui a correta moralidade, o fato é que não eram divindades largamente cultuadas talvez pelo seu aspecto mais mitológico e familiar. Cabe a nós entender o conto da mitologia e trazer para nossa vida a lição de que lutar contra um destino fiado e forçar o desequilíbrio para evitá-lo, cedo ou tarde trará sobre nós uma dor maior do que se o caminho naturalmente tivesse sido percorrido, a natureza é o melhor professor que temos.


Baldur em todo seu brilho foi mais cego que seu próprio irmão.

Até sexta-feira.


- Heiðinn Hjarta

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