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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Hel - A dama dos mortos.

Boa noite senhoras e senhores, nesta quarta-feira que faz muito frio por aqui onde estou, dedico o texto seguinte a uma divindade que está acostumada com as vibrações e temperaturas mais baixas da terra, ao contrário da crença cristã de churrascada eterna, vou dedicar minhas próximas palavras a Hel, a senhora do submundo nórdico.


Mas antes, vamos fazer algumas considerações. Inicialmente qual é a diferença de Hel (lugar) para Niflhel e Niflheimr? Vamos então aos esclarecimentos, Hel é o local, de mesmo nome da sua divindade dominante, que guarda a alma daqueles que morreram por velhice ou por doenças o local guarda também um galo vermelho que irá cantar nos portões ao início do Ragnarok, os outros dois estão em Jötunheimr e Valhalla, assim como o local esconde uma das três mais profundas raízes da árvore da vida Yggdrasil, sendo as outras duas uma em Jötunheimr (lar dos gigantes) e a outra em Midgarð (lar dos humanos), apesar de Hel ser considerado um lugar de apatia e tédio, o verdadeiro sofrimento ficava em um lugar dentro de Hel chamado Náströnd onde o dragão Niðhöggr se alimentava dos mortos, essa divisão pode sugerir uma diferença entre formas de tratamento.


Niflhel é apenas outro nome para uma região de Hel, simbolizando nitidamente a tradução névoas de Hel, muito provavelmente as planícies escuras que Hermóðr, filho de Óðinn, cavalga por nove noites, num vale escuro e deserto onde nada podia ser visto, para chegar no reino de Hel. E por fim Nifheimr, a terra do gelo primordial, não é o mundo dos mortos! Ele já existia no começo da criação, anterior ao próprio gigante Ymir e tão velho quanto Múspellheimr a terra fogo primordial, bom como dos gigantes do fogo.


Eliminadas as controvérsias seguimos com a Divindade do dia Hel. Esta divindade tem sua descendência em Loki como seu pai e a giganta Angrboða como sua mãe, tem como irmãos desta união, o lobo Fenrir e a serpente Jörmungandr. Ela foi colocada por Óðinn em Hel para regrar um lugar onde pudesse guardar aqueles que viessem a morrer de doença ou velhice, ou seja, ela num é um carrasco divino como os vários diabos do monoteísmo, ela tem uma função importante, manter os mundos separados, para isso ela se mostra uma criatura sem compaixão e sempre neutra, como a morte em sua perfeição deve ser. Seu reino possui imensos salões e o seu se chama Éljúðnir (encoberto por nevascas ou molhado pelo granizo), possui um prato chamado Fome, uma faca chamada escassez, um servo chamado Ganglati (andarilho ocioso) e uma serva chamada Ganglöt (andarilha preguiçosa), uma giganta chamada Móðguðr que guardava a ponte Gjallarbrú, que atravessava o rio Gjöll, permitindo os recém falecidos atravessá-la para finalmente adentrarem ao reino de Hel e segundo o pesquisador, Jacob Grimm, uma montaria de três patas chamada Helhest.


A entrada de seu reino se chama Pedra do Tropeço, sua cama se chama Doença e suas cortinas se chamam Fardo Reluzente. Ela é simetricamente branca e negra, viva e morta e sempre descrita como abatida mas de olhar feroz. Mesmo os reis que morriam de doença não escapavam de Hel, como foi o caso do rei Dyggi, que dizia-se ter ido se deitar com Hel (exatamente neste sentido), após a sua morte. Outros reis como Halfdan Hvitbeinn e seu filho e sucessor Eystein Halfdansson, também tiveram a mesma sorte ou o mesmo azar.


Além de tudo isso um aspecto muito interessante é o fato de tanto a vida quanto a morte serem representadas por figuras femininas, como se a mulher desse a vida e a tirasse também. Hel em sua forma simétrica resume bem isso, textos antigos (vide postagem anterior a esta) também falam de como Hel ia buscar os mortos e como mulheres as vezes eram sacrificadas em ritos funerários, a própria presença das Disir como seres ancestrais femininos desencarnados guardando a sorte do indivíduo e do clã corroboram esses fatos.


Seja como for Hel representa bem o arquétipo de criatura rústica do clã dos Jötuns, pelo fato de ser uma adversidade que pouco se pode evitar, em sua sabedoria e frieza consegue manter sua função com imparcialidade e equilíbrio, como a natureza o é, e aqueles que desejam entender melhor os mistérios da morte esta é uma deusa que tem muito a oferecer, mas também existe um bom motivo pelo qual os vivos estão vivos e vivem entre os vivos, assim como os mortos estão mortos e vivem entre os mortos. Aprender com a morte, enquanto vivo, é algo gratificante, mas abraçá-la seria deixar de aprender com a própria vida.


E para encerrar os pensamentos fúnebres da noite deixo uma frase de reflexão do já falecido, mas imortalizado em suas obras, Mario Quintana:


"[Inscrição para um portão de cemitério]
A morte não melhora ninguém".


Até o fim da semana.


- Heiðinn Hjarta.

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